segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Diário de Viagem, P.06: KOTOR e DUBROVNIK

Se você está entrando agora no meu diário, sugiro que comece da PRIMEIRA PÁGINA. Olhe ali, na coluna da direita, o índice do arquivo do blog e veja as postagens de outubro. Fico feliz de saber que você está aqui!

2ª-feira, 26.09.2011
KOTOR, Montenegro

Ao alvorecer, quem estava acordado, vendo o navio chegar a Kotor, diz ter visto uma das paisagens mais deslumbrantes da viagem. Eu, inexplicavelmente, dormia! Quando acordei, o navio já estava bem atracado, às margens de uma das baías mais lindas do mundo. Hoje, o porto está do outro lado da embarcação. Não o vejo de minha varanda, mas, em compensação, vejo o mar e parte da paisagem local.

Durante a noite saímos do mar Jônico e estamos no Adriático. O fuso horário é 5 horas adiante do Brasil. O país em que chegamos é Montenegro que se limita com a Albânia, a Bósnia Herzegovina, a Sérvia, a Croácia e é banhado em toda sua costa pelo Mar Adriático. Do outro lado do mar, fica a Itália.
Montenegro, com população de 800 mil habitantes aproximadamente, tem uma história longa e interessante, que começa a ser registrada a partir do Império Romano e passa pelo domínio romano, eslavo, sérvio, veneziano e otomano, com períodos intercalados de nação independente. No século XIX, vence a guerra contra os otomanos, com ajuda da Rússia e Sérvia. Após a Primeira Guerra Mundial, Montenegro torna-se parte da Iugoslávia e depois da Segunda Guerra Mundial, sob o comando do lider comunista Tito, cresce economicamente e se torna uma das mais importantes repúblicas socialistas que compunham a ex-Iugoslávia. 
Sobre o pórtico, uma citação de Tito, de 1944,
cuja tradução não consegui memorizar.

O incrível mosaico étnico dos Bálcãs foi sedimentado pela ação de Tito, que escolheu uma "via própria para o socialismo", independente das regras impostas pelos soviéticos no leste europeu. Ele ousara enfrentar os dois maiores tiranos da Europa do século XX, primeiro  Hitler e depois Stalin, mantendo a Iugoslávia pacificada e coesa. Juntamente com Nasser do Egito e Nehru da Índia, lançou as bases da organização dos não-alinhados em 1955, projetando o seu nome internacionalmente. Em 1992, um conflito com os croatas e bósnios é o início do percurso para a independência de Montenegro, conseguida em 2006. (Viva o Google!)
Como em outros países da região, o crescimento do turismo tornou-se uma fonte econômica importante para o país onde o euro circula livremente, apesar de não fazer parte da União Europeia. O nome do país refere-se às elevadíssimas montanhas de seu território central, cobertas por uma densa vegetação de pinheiros que no conjunto forma uma massa escura, quase negra.
À noite, no navio, captamos esta imagem
das muralhas iluminadas
Kotor é uma cidade turística, com cerca de 25 mil habitantes e cuja zona central é reconhecida como sendo Património da Humanidade pela UNESCO. Essa parte mais antiga é uma cidade medieval cercada por muralhas que a contornam ao nível do mar e avançam morro acima, fechando uma área de proteção em terreno quase vertical. Diz nosso guia turístico, que as muralhas serviam para defender a cidade dos invasores por terra - tais como os vizinhos “mui amigos"  sérvios - porque, os inimigos que viessem pelo mar seriam facilmente identificados a distância e logo vencidos pela grande habilidade local com as artes da guerra por mar.
Entra-se nessa cidade-fortaleza por um único pórtico, sobre o qual foi gravada uma citação de Tito, datada de 1944.

Pórtico de entrada da cidade velha de Kotor

Lá dentro, percorremos ruelas estreitas e tortuosas, cheias de lojas com mercadoria de médio a alto luxo, ligando pracinhas charmosas. Sobre o calçamento de mármore, como na Grécia, lá vamos nós, com o melhor guia que já tivemos até hoje.
Fones no ouvido, radinho ao pescoço
 Jovem e magro, sua camisa de cor alaranjada se destaca no meio dos transeuntes. Apresenta-se como guia e estudante de pós-graduação não sei em quê, e demonstra muito conhecimento sobre o que fala, amor por sua terra e disposição para responder qualquer pergunta, sempre num inglês fluente muito bom, no que consegui captar. Outro ponto positivo da excursão em Kotor é a utilização dos fones de ouvido, que nos permite escutar bem as explicações, sem precisar ficar nos amontoando em volta do guia. 
As pracinhas têm muitos restaurantes, sorveterias e bares ao ar livre, com decoração de bom gosto, tudo limpo e muito lindo. Diz o guia que a população é pacífica e harmoniosa. Aí convivem, sem conflitos, católicos, ortodoxos e muçulmanos.


As igrejas são muito bonitas e numerosas, proporcionalmente à população. 
O Museu Marítimo, antiga residência de nobres que doaram o prédio, mostra aspectos da cultura local – vestimentas, móveis, louças e prataria, obras de arte - e do poderio militar – armas, barcos, artigos náuticos.
A área do porto, fora da muralha é moderna e bem ajardinada. Um mercado ao ar livre vende produtos da terra e artesanato. Ao contrário das lojas internas, os preços aí são baixos, mas a qualidade deixa a desejar, exceto quanto aos paninhos bordados, que são lindos. Queijos apetitosos são oferecidos por mãos de dedos sujos, para provar. Agradecemos. Os vendedores só falam a língua materna, indecifrável para nós. Mas sabem os números em inglês, para dar o preço em euros.
O tema de nosso passeio focalizou o local como patrimônio cultural da humanidade, onde a arquitetura lembra o domínio da República de Veneza, as fortificações muito bem preservadas remontam aos mais remotos tempos da Idade Média e  a religiosidade se manifesta em importantes edificações como a Catedral de São Triphon (qual seu nome em Português?) construída em 1166. Mas Kotor tem muito mais, em termos de paisagens e possibilidades de esporte e lazer nas montanhas e em sua baía espetacular. Fica para a próxima!!!

Ao voltar para o navio (olha ele ali!), o grupo da excursão já disperso, passeamos um pouco pelos jardins e provamos da vida boa de quem anda por ali: o trânsito é civilizado e os carros esperam os pedestres atravessarem a rua.
O porto de Kotor visto do alto do deck11 do Seven Seas Voyager.


3ª Feira – 27.09.2011
DUBROVNIK, Croácia
Hoje eu peguei a alvorada de jeito! Não gosto de perder o espetáculo. Fico na varanda, admirada. Mas há um café completo a minha espera e, depois, a exploração de mais uma localidade desconhecida. Um mundo completamente novo para mim: a Croácia.
O navio está atracado no porto, aonde os ônibus vêm nos buscar. Só de olhar fico com a maior curiosidade. “Aqueles que procuram o paraíso na Terra devem vir a Dubrovnik”, escreveu George Bernard Shaw encantado com a beleza dos 1940 metros de muralha – hoje patrimônio protegido pela UNESCO – que circundam esta cidade que é apelidada de Pérola do Adriático. Vou conferir toda animada.
De dentro do ônibus, já posso ver que é mesmo um lugar interessante e belo, mas - que pena! - com a guia mais incompetente de todos os que nos acompanharam nas excursões. Parece que não domina bem o idioma inglês, fala baixo e mostra-se insegura para responder perguntas.
Se eu entendesse melhor a língua e pudesse ouvir as explicações com clareza, poderia talvez compreender os fatos históricos dessa região tão complexa, na versão da Croácia. Porque é preciso levar em conta quanta incompreensão e ódio se sedimentaram  na história destes povos que tentam manter sua identidade numa convivência conturbada por preconceitos, disputa de poder, alianças políticas, divergências ideológicas e desequilíbrio econômico, desde tempos ignorados pela História que aprendemos na escola. O que fica claro apenas é o que eu já sabia: no capítulo mais recente de sua história, a Croácia que fazia parte da República Federal Socialista da Iugoslávia, declarou sua independência em 1991.
Dubrovnik é uma cidade croata na costa do Mar Adriático, ao sul de uma região chamada Dalmácia. Desde 1979 foi declarada patrimônio da humanidade pela UNESCO. Sua prosperidade foi historicamente baseada no comércio marítimo, do qual foi uma das maiores potências nos séculos XV e XVI, rivalizando com Veneza, a mais poderosa da época.
Logo de início, o trajeto do ônibus proporciona uma visão grandiosa das muralhas, passando bem junto delas.












Em seguida, o roteiro é impressionante: a pé, percorremos as ruas onde monumentos e edificações de várias épocas mostram não só a variedade de influências culturais, como o poder de recuperação - com o apoio da UNESCO - de obras destruídas em guerras e catástrofes naturais. A proposta de nossa visita é andar pelos meandros de uma enorme fortaleza fincada nos rochedos à beira-mar, tudo em grandes dimensões, distâncias e escadarias que só pude enfrentar com os olhos.
Por isto Flora e eu nos desligamos do grupo e demos uma volta pelo comércio e pracinhas, debruçamo-nos em amuradas sobre o mar e aproveitamos ao máximo a paisagem deslumbrante.















Não sei se por causa do acúmulo de turistas, ou por ter dificuldade de se comunicar em inglês, o povo me pareceu mais impaciente e brusco do que nos outros lugares. Não tivemos muita sorte em lojas e ao pedir informações. Em compensação, uma vendedora de rua, moça bonita, nos atendeu risonha e até nos deu, a cada uma, de brinde, um sachê perfumado - talvez em retribuição à sinceridade de nosso encantamento diante de seu sorriso, suas bonecas e bordados tão lindos e delicados.















Ao terminar o passeio, encontramos os companheiros e juntamo-nos, os quatro, em torno de uma mesa de bar para uma cervejinha, na sombra, servidos por um garçom croata admirador do futebol brasileiro.

No retorno ao navio, uma passageira sentiu-se mal e o Ary demonstrou iniciativa e força física, pois a levou nos braços do ônibus até o atendimento médico no navio. Ele é assim: descobre gente que está precisando de ajuda em todo lugar. Mas desta vez, houve falha na logística da excursão, pois não se justifica que o socorro tenha dependido apenas da solidariedade do Ary. Algo de errado aconteceu aí - e o erro com certeza não foi da moça que adoeceu. O certo, a meu ver, teria sido o motorista ou a guia ter comunicado o ocorrido à assistência médica do navio para que a paciente fosse esperada na chegada do ônibus, com equipamento de emergência. Afinal, para que servem os celulares numa hora destas?




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