Na quinta
feira passada, dia 02.05.2013, eu recortei, do jornal O Tempo, um artigo do
jornalista Acílio Lara Resende que toca em alguns pontos em que ando pensando
muito ultimamente. Não se trata de novidade, nem parece que o autor
pretende fazer grandes sacadas. Com simplicidade ele diz coisas que repercutem
na minha consciência de testemunha da história nestes meus muitos anos de vida.
Sob o título O PT já não consegue
esconder mais sua vocação autoritária, ele comenta a falta de líderes realmente
comprometidos com o bem comum e alerta para o fato de que o desprestígio da política
está na ausência dessas lideranças.
1 – O mote: A propósito da crise entre os
Poderes Legislativo e Judiciário, que expõe nosso frágil regime democrático a
sérios riscos, o autor lamenta a ausência de lideranças competentes e confiáveis,
o que não é privilégio do Brasil, mas “é preciso dizer que o que hoje ocorre no
Brasil superou todos os limites”. Refere-se, a propósito, ao livro “Sobre o Céu
e a Terra” do Papa Francisco. Jorge Bergoglio, o papa da Igreja Católica, sugere que “o
desrespeito ao trabalho político precisa ser revertido, porque a política é uma
forma elevada de caridade social. O amor social se expressa no trabalho
político para o bem comum.” E adverte: “Vejo permanentemente lutas de interesses
e não tantas lutas pelo bem do próximo. Também não encontro instituições
políticas que tenham uma profunda convicção para transformar a realidade.
Percebo que só lutam para obter o poder e o antepõem ao indivíduo”. (O papa se
refere ao seu país, mas nos atinge, diz Lara Resende).
Meu comentário: é um consolo ver nesta citação
o que tenho ouvido em todo lugar, de pessoas de todas as origens e níveis
culturais com quem mantenho contato pessoal ou virtual. Afinal, o pensamento presente nas
conversas informais e na observação da realidade comum do brasileiro nas ruas e
nos ambientes de trabalho aparece em letra de forma no livro escrito por
ninguém menos do que o Papa e serve de mote a uma reflexão ponderada e séria de
um articulista de respeito.
2 – A visão histórica: em seguida, embalado pelas
palavras do Papa, Lara Resende viaja no tempo, reportando-se à criação do Partido dos Trabalhadores, há 30
anos. Lembra que o partido que então se formava tinha o apoio e a colaboração
de intelectuais e lideranças religiosas de peso, contava com a militância de
trabalhadores sinceros e com o entusiasmo de jovens estudantes idealistas. Mesmo
quem não se filiou ao partido, diz ele, na ocasião desejava que sua “trajetória
fosse uma só – a de passar nossa velha política a limpo”. E continua já em tom de decepção: “Todavia,
isso não aconteceu na prática. O partido não apoiou Tancredo Neves no Colégio
Eleitoral, única saída, na época, contra a ditadura. Os petistas que votaram
nele foram expulsos. Votou contra a Constituição de 1988, opôs-se duramente ao
Plano Real e à Lei de Responsabilidade Fiscal, combateu sem tréguas o
ex-presidente Sarney e, depois, teve a desfaçatez de apoiá-lo também sem
tréguas”.
Meu comentário: o partido que nasceu como um
sopro de renovação na política parecia mesmo ser o mensageiro de uma nova
visão, de uma forma diferente de tratar a coisa pública, de dar voz a setores
que não tinham espaço para se expressar. Até mesmo a contraposição à luta
democrática na forma proposta pelo Colégio Eleitoral e pela Constituinte, poderia
passar como coragem para expressar o desejo de lutar por solução mais
radical para o retorno à democracia – uma posição de tudo ou nada. Era a
rebeldia em sua forma mais agressiva, mas era possível dar àqueles novatos na
política, o benefício da dúvida sobre sua intenção de construir uma nova ordem
para o recomeço de uma história gloriosa. Durante anos, mesmo não concordando
com aquela agressividade que me parecia descabida, eu achava possível
crer que eles queriam mesmo passar a limpo velhos procedimentos e cacoetes da
política nacional. Inexplicável no entanto, nesse contexto, foi a oposição ao Plano
Real e à lei de Responsabilidade Fiscal, duas medidas de indiscutível valor
para o bem do Brasil como um todo – capazes de, no primeiro caso, recuperar o
valor, a credibilidade, o poder de compra e o respeito à moeda nacional, e, no
segundo, restaurar a moralidade e o comedimento no trato da coisa pública.
3 – A verdadeira face: O articulista continua a acompanhar a história
do PT até os tempos atuais, em que, então, tendo alcançado o poder por meio de
eleições democráticas muito disputadas, o partido trai a sua história, tira a
máscara e, nos melhores moldes autoritários, tenta investir contra a liberdade
de imprensa e apoia os condenados do mensalão. Outras medidas também são
citadas nessa linha de retrocesso em que anda o Brasil: a pretensão de retirar
do Ministério Público o poder de investigação e de dar ao legislativo o poder de
alterar decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).
Meu comentário: os meios jurídicos reconhecem,
por ser prática comum, o chamado “jus esperniandi”, expressão jocosa que designa o direito
de espernear que toda pessoa tem quando está em apuros. É o que fazem os advogados,
quando insistem com todos os recursos cabíveis e até mesmo com argumentos
falaciosos, diante de uma causa perdida. Mas no caso do mensalão, esse direito
de espernear é levado ao cúmulo do exagero. A luta contra a impunidade - o fato
de que os ricos e poderosos nunca sejam condenados, situação odiosa que o PT
denunciava - agora que os poderosos são eles, essa luta já não vale mais?
Quando a justiça condena atos de improbidade e atos nitidamente criminosos, os
juízes são acusados de terem uma atuação “política” e de cometerem injustiça contra
pessoas que “merecem respeito pelo seu passado”. Ora, José Dirceu, Genoíno e
outros já jogaram lama, há muito tempo, sobre sua própria história de luta
contra a ditadura. A corrupção nas prefeituras, como no caso que provocou a
queda de Palocci, deixou de ser um procedimento da política antiga e passou a
ser válida só por que beneficia os “companheiros”? O uso de dinheiro público
“fermentado” em contratos superfaturados para cooptar aliados e fortalecer a
base do governo agora já não é crime, só porque é feito no caixa 2 do PT e aliados? Como
explicar que Dirceu e Lula não soubessem e não participassem de nada disso?
Ora, os réus foram julgados, condenados, terão direito a todos os recursos para
espernear à vontade, mas dizer que são anjinhos e os culpados são os juízes, ora,
é demais. Como é amargo o gosto de saber que a luta deles não era pela
democracia, nem pela valorização do trabalho e do trabalhador. O jogo está
claro: a disputa é pelo poder, por mordomias, por privilégios. Não mudou nada,
apenas tudo ficou mais claro, pois, com o avanço da tecnologia da comunicação, os
segredos ficam mais difíceis de guardar. É possível também que os valores envolvidos tenham crescido, ao estímulo do consumismo crescente e das ambições desmedidas insufladas pela impunidade.
4 - Crise moral: Completo o
desabafo de hoje, com o seguinte trecho do artigo do professor Flávio Saliba
Cunha, do mesmo jornal O Tempo, 04.05.2013: “A crise moral tem raízes, também,
na ausência de comportamentos efetivamente democráticos. Como se sabe, o
exemplo vem de cima. Se as famílias arruinadas não constituem bons modelos para
os filhos, o que dizer da vida pública nacional? Se o primeiro governo petista
teve o mérito de tirar milhões de famílias da miséria absoluta, suas práticas
políticas em nada contribuíram para elevar os níveis de moralidade nas
instituições públicas e, consequentemente, nas práticas individuais e
coletivas”. E conclui: “Não vejo diferença entre o desperdício de dinheiro nas
obras públicas inacabadas durante a ditadura e os desmandos na construção de
ferrovias e na transposição do rio São Francisco, em pleno regime democrático”.
Meu comentário: A crise
moral que alimenta a violência e deixa a população acuada tem suas raízes na
falta de lideranças confiáveis e realmente comprometidas com o bem comum e o
respeito pela lei e pelo bem público. Nossos líderes atuais - há de haver exceções, claro! - cuidam apenas de seus próprios
interesses, tentam fugir à responsabilidade de seus atos ilegais e imorais, não
estão nem aí para seu dever de dar bons exemplos por serem representantes do povo que
os elegeu.
É, Acílio,
valha-nos Deus!
Nenhum comentário:
Postar um comentário