quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A mensagem do Menino

O Oriente Médio nos impressiona hoje com seu viver belicoso, o ódio ancestral entre vizinhos, a grande dificuldade de viver em paz naquele mundo longínquo. Mesmo as lutas entre facções de traficantes de drogas no Brasil não chegam a ser uma pálida reprodução da encarniçada luta daquelas bandas. Mesmo porque, aqui, as escaramuças, por mais violentas que sejam, são atividades marginais, fora da lei. Lá, são a forma de expressão de grupos que se revezam, disputando eleições para constituir o governo de uma nação, variando, entre eles, apenas os meios usados para provocar o inimigo mais próximo ou dele se defender. As promessas de paz são quebradas, as tréguas interrompidas de surpresa, a guerra é a indicação mais evidente da existência de um povo. Nações existem porque lutam, constroem sua identidade pelas agressões, crianças são treinadas desde cedo para odiar os povos rivais, pegar em armas e criar uma imagem guerreira. Os motivos perdem-se nas brumas da História e são realçados por razões mais próximas, mais atuais, sejam de natureza econômica, política ou cultural.
Tais brumas podem ser desveladas nos livros sagrados dos muçulmanos, dos judeus e dos cristãos. Na Bíblia, o cenário comum a esses povos - irmãos  na origem, no monoteísmo e na geografia - serve de pano de fundo para a saga do Povo de Israel que veio, através dos séculos, enfrentando inimigos e esperando a divina proteção, a salvação e a vingança. Em vários trechos o texto sagrado fala de Deus defendendo seu povo, confundindo e derrotando seus inimigos, protegendo-o na luta e prometendo-lhe a salvação.
A imagem que o povo captava da palavra dos profetas era a da vinda de um Messias guerreiro, à frente de exército invencível, disposto e capaz de derrotar o inimigo e instaurar o Reino de Deus.
Surpreendentemente, o Salvador que Deus mandou para seu povo foi aquele Menino que louvamos no presépio e comemoramos nas festas do Natal.
Sua mensagem foi bem diferente do esperado. Em vez do deus vingativo, o Pai que nos abre o seu Reino. Em vez do ódio, o amor. Em vez da guerra, o perdão. Em vez da força, a fé. No lugar das armas, a Palavra. Mais do que a salvação como presente ou troféu, a indicação do caminho para o Reino de Deus. Um caminho que cada um constrói mas, no qual, não se está sozinho.
É verdade que Jesus não foi reconhecido logo. Ao contrário, foi preso, abandonado pelos amigos, açoitado, morto e sepultado. O que nos ensina a ter paciência. Nenhuma mudança significativa se faz do dia para a noite. Quem poderia imaginar que aquele homem sofrido e ensanguentado que morria no Calvário seria lembrado no mundo todo, mais de vinte séculos depois?
Os efeitos da mensagem cristã ainda não estão completos. Falta muito. Mas a humanidade caminha e, mesmo que seja difícil de acreditar, ela melhora. Podemos não perceber isto em sua totalidade, porque nosso tempo é limitado e Deus atua na eternidade, daí sua paciência infinita. Os modernos meios de comunicação, em oposição às condições do passado, expõem agora, em tempo real e cores vivas, as atrocidades e injustiças que desde sempre fizeram parte das relações humanas. Mas, se não perdermos a esperança, a maior visibilidade do mal pode atuar como fator de evolução da consciência e fortalecimento do desejo de conquistar o legado que o Cristo nos deixou.
O pensamento crítico e a indignação podem nos fortalecer, na certeza de que o Pai não nos abandona...

Um comentário:

  1. Linda mensagem, Lêda. Muito clara e simples, para nos ajudar a entender tanta coisa... Beijo.
    Nan

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