domingo, 22 de agosto de 2010

Menina querida, tão longe...

Ela nasceu no Rio de Janeiro, carioquinha da gema, filha de pai carioca e mãe mineira, numa família que mistura com muita sabedoria a carioquice e a mineirice, há pelo menos dois séculos. Tem dado certo.
Com dois anos de idade, os avós foram buscá-la, no Rio, onde morava, para irem à praia em Rio das Ostras, ali pertinho. Lá já a esperava o priminho, companheiro de todas as férias de sua infância. Os pais estavam ocupados providenciando a mudança para Curitiba. Passando por Araruama, ela já queria descer. Sempre amou o mar.
Cresceu curitibana, um sotaque delicado. Sempre graciosa e alegre. Figurinha que enfeitava a vida dos avós nas férias e encantava os primos e tios. Na montanha de Minas ou no mar do Rio, ela topava qualquer parada. Fazia questão de vencer todos os obstáculos, achava-se capaz de qualquer coisa que os meninos fizessem. Um perigo. Mas, por sorte, os próprios meninos a protegiam. Nunca menosprezaram a capacidade da prima, mas ajeitavam as brincadeiras para que ela pudesse participar.
Desde pequena dormia ouvindo histórias. Depois, passou a devorar livros e, quando se entusiasmava por um deles, não se fazia de rogada para contar a história toda a quem quisesse ouvir. Ou, se não quisesse, que saísse de perto, porque ela contava mesmo. Assim, dirigindo o carro, levando-a a qualquer lugar, durante todo um período de férias, vovó ouviu todas as desventuras de um romance infanto-juvenil em vários volumes – a leitura da moda. Quando chegou a época do Harry Potter ela já não era tão tagarela. E na fase dos vampiros, vovó passou a sentir saudades de a ouvir contar histórias: quase silenciosa, introvertida e pensativa, expressava-se melhor com os olhos e o sorriso. Ou, com lágrimas no cinema – adora filmes tristes! Para ouvir seus segredos, só poucos. Seletiva...
De repente, a menina tornou-se uma linda mocinha, meiga e carinhosa, mas distante e fechada num mundo romântico, impenetrável aos estranhos. Sua relação com os pais no entanto, foi-se aprofundando, quanto menos palavras mais comunicação. Com o tempo, os pais se aperfeiçoaram na arte de conhecê-la. Um trabalho de amor e muita dedicação que começou no dia em que ela nasceu.
Ali, melhor que nos manuais de educação de adolescentes, eu vejo, com admiração, como pessoas bem sucedidas e dedicadas a suas carreiras profissionais, podem viver uma relação tão boa com sua filha adolescente, pois não perdem de vista as necessidades de entendimento, orientação, cuidado e companheirismo. Não que faltem conflitos e aflições, mas estes são tratados em sua verdadeira dimensão, com carinho e sem exageros.
Agora – aos quinze anos de idade e o ensino fundamental completo - eles foram levá-la para longe. Depois de um passeio turístico por terras de África e Europa Oriental, eles estão com ela nos Alpes suíços. Vão deixá-la ali, para uma experiência de um ano, longe de casa, estudando no coração da Europa. Realização de um sonho da menina. Ela está encantada com a idéia de ampliar seu mundo, aberta para novas amizades, sôfrega por emoções diferentes e novos conhecimentos. A mãe esconde as lágrimas e dá todo apoio.
Com voz clara e alegre, ela manda um beijo para os tios, tias, primos e priminhas reunidos no almoço de domingo. E, lá de longe, diz que ama muito a vovó e que está adorando tudo.
Que Deus a abençoe. Um ano passa depressa...

2 comentários:

  1. Mamãe, sem palavras... fiquei muito emocionada pelo que escreveu sobre a Laísa e nós. Não somos tão bons assim, mas se acertamos temos a quem nos espelhar. Bjs de sua filha que te ama muito,

    Lu

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  2. Vovó, obrigada pelo texto, muito bonito! Voce é muito especial, te amo muito! beijinhos

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