domingo, 28 de junho de 2015

Helsinque, surpresa e admiração


26.05.2014: hoje chegamos ao ponto mais ao norte da viagem. É o momento em que o grupo começa a se dividir e, em compensação, novos companheiros se juntam a nós. As paranaenses tomam outro rumo, acho que vão a Paris. Os casais paulistas vão pegar um ônibus para São Petersburgo, direto para a Rússia e nós outros optamos por passar pela Finlândia. Para isto é preciso atravessar o chamado Golfo da Finlândia, que é um braço do Mar Báltico, percorrendo uma distância de 88 quilômetros entre Talin e Helsinque, em 3 horas e meia.



Passamos esta manhã, a bordo de um “ferryboat”, confortavelmente reunidos em um bar cujas cadeiras e mesas ficam dispostas em vários níveis, como um anfiteatro, tomando café com leite quentinho e nos deliciando com a visão do mar, paisagem calmante que se descortina através de grandes esquadrias de vidro. 



Uma subida ao convés superior proporciona uma visão panorâmica magnífica, mas a ventania acelera a vontade de voltar para o aconchego do interior da embarcação.
Veículos desembarcando
Veículos na fila para entrar no ferryboat
A menção a ferryboat, pelo menos em minha pouca experiência marítima, evoca pequenos barcos, mas o nosso é imenso, como um prédio de muitos andares acessíveis por elevadores. Tem um formato bizarro e, por isto, não se confunde com um transatlântico de cruzeiros. Um verdadeiro monstro marinho, em cores berrantes, cuja goela gigantesca engole facilmente os passageiros para essa pequena viagem e acolhe em suas entranhas uma quantidade inacreditável de ônibus, caminhões e automóveis.
Ao chegar ao destino, na fila de espera para os procedimentos de entrada no país, acompanhamos, pelas janelas do edifício do porto finlandês, o cortejo sem fim dos veículos que desembarcam, enquanto outros esperam sua vez de entrar para a viagem de volta.


Afinal, desembaraçados sem dificuldades dos procedimentos alfandegários, somos acolhidos pela agência de turismo local para um passeio panorâmico por Helsinque, capital da Finlândia, conhecida como a “cidade branca do Norte”, porque passa grande parte do ano coberta de muitas camadas de neve.
A praça do Senado, com a catedral ao fundo
Imagem, copiada do Google,
da mesma praça no inverno
Mas estamos na primavera - o tempo está radioso, o sol brilhante, os jardins floridos e a população muito colorida, com roupas de verão. Muita gente nas ruas, praças e gramados, expondo-se ao sol e aproveitando a temperatura agradável ao ar livre.









O nome do país, no idioma finlandês, é Suomi, que significa " Terra dos Mil Lagos" e também pode ser entendido como "Terra dos Pântanos". É sempre lembrada por ser a terra do Papai Noel, o mais famoso habitante da Lapônia, região sempre gelada desse país, com suas renas e pinheiros mundialmente conhecidos e festejados no Natal. O símbolo da Lapônia, no entanto, não é a rena, mas seu primo, o alce, como se vê neste sininho vendido como souvenir.


As crianças sabem que antigamente ali existia uma grande fábrica artesanal de brinquedos e tudo o que elas sabem é, sem dúvida, verdadeiro. Mas, agora, Papai Noel já terceirizou essa produção para grandes empresas internacionais, como a Disney, a Lego e outras - e mantém franquias em pontos estratégicos como Gramado, no Brasil, por exemplo. E aposentou os duendes, as renas, os sacos e os trenós de carga, substituindo-os por operários chineses e modernos contêineres transportados em navios e aviões supersônicos. Aumentou muito o número de crianças no mundo... era forçoso modernizar a logística. No entanto, em maio, não vemos nem sinal de Papai Noel. Fui obrigada a copiar seu retrato da Internet! Uma ressalva: os finlandeses não têm nenhuma culpa de tudo isto.
Ambiente de primavera
Essa terra tão bonita também é famosa por apresentar os melhores índices mundiais de educação e ter mais de 90% dos seus alunos matriculados em escolas públicas . Agora mesmo, pouco tempo antes de eu publicar este post, a revista VEJA (24.06.2015) traz uma reportagem sobre a educação na Finlândia. Já tendo atingido excelentes resultados, esse país ainda busca melhorar mais, consciente das novas necessidades educacionais criadas pelo dinamismo das mudanças que caracteriza o mundo no nosso século. A história da cultura finlandesa mostra a persistente busca da emancipação nacional, especialmente na literatura. Vários escritores que retrataram a sociedade local nos seus livros, também se esforçaram para desenvolver a educação do povo - em finlandês. A língua como fator de identidade de um povo. Ponto para eles!
Parlamento da Finlândia
Outro motivo de reverência a esse povo tão desconhecido por nós é que a mulher finlandesa foi a primeira do mundo a obter, em 1906 o direito, não apenas de votar, mas de ser eleita para o parlamento.

Arte em homenagem ao trabalho







Uma pesquisa recente baseada em indicadores sociais, econômicos, políticos e militares classificou a Finlândia como o segundo país mais estável do mundo, só perdendo em estabilidade para a Dinamarca.

Esse país íntegra a Escandinávia, região geográfica e histórica no norte da Europa, formado de Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia e Islândia. A Finlândia fez parte do reino da Suécia, a partir da idade Média, quando os reis suecos faziam conquistas durante as Cruzadas do Norte – no afã de aumentar o domínio da religião cristã sobre os povos considerados bárbaros. A partir da Reforma Religiosa, vieram a predominar aí as confissões protestantes, especialmente a luterana. A influência da religiosidade russa manifesta-se nas igrejas ortodoxas.
Um parque dedicado à memória de Sibelius. Nele se
encontra um monumento ao
compositor finlandês.
No século XVII as forças militares de Alexandre I da Rússia anexaram a Finlândia ao Império Russo.


Detalhe do monumento a Sibelius.












A independência só veio a ser conquistada em 1917. Para comemorar a independência, Jean Sibelius, o maior compositor desse país, compôs o poema sinfônico Finlândia, música que ganhou fama e admiração no mundo todo. No nosso passeio por Helsinque, uma das atrações mais bonitas e emocionantes é o monumento a esse artista, no meio de um parque dedicado à sua memória. Assim como a Polônia, que reverencia Chopin, a Finlândia tem o seu herói da música, aliado ao sentimento de identidade nacional e ao ideal de independência política.


Lembro-me de ter ouvido dizer que, apesar dos séculos de dominação estrangeira no passado, depois da independência, a Finlândia nunca mais submeteu-se a um poder estrangeiro, nem mesmo a seus vizinhos comunistas ou nazistas.


Apesar do tempo curto de permanência, encantei-me com Helsinque. Espaços largos, prédios imponentes, monumentos interessantes e um mercado ao ar livre, junto ao cais, de dar água na boca. Ali, toda variedade de alimento é oferecida, mas as frutas batem o recorde de atratividade. Passeamos a pé pelo mercado e pela praça do Senado, onde se destaca a belíssima catedral.


Igreja Luterana - escavada na rocha. Paredes completadas com as pedras
da escavação. 
O edifício mais impressionante que vimos é uma igreja luterana de nome impronunciável: Tuomio kirkko, ou Temppeliaukko kirkko (cada fonte consultada lhe dá um nome. Só entendi que kirkko deve ser igreja) – prédio moderno difícil também de descrever. Essa igreja foi construída dentro de uma rocha, escavada em forma circular, com uma cobertura metálica sustentada por hastes onde se fixam os vidros que trazem a luz do sol para dentro do templo. Maravilhoso também no seu interior é um órgão de formato inusitado. Uma beleza.
O órgão que encanta os olhos e os ouvidos.


Só depois do passeio pela cidade é que chegamos ao hotel para guardar as bagagens. Ao entardecer, tarde livre, ou seja, os guias nos deixaram à nossa própria sorte. Oba!
Paisagem litorânea agradável 













Uma longa caminhada pela avenida que liga nosso hotel ao centro comercial, nos proporciona a oportunidade de apreciar arquitetura de várias épocas, trânsito civilizado, jardins maravilhosos, gente tranquila e pessoas com roupas de verão, enquanto nós sentimos um pouco de frio. As ruas fervilham com bares e suas mesas sob toldos, como já sabemos que é comum nesses países de verão curto. Eles precisam aproveitar o pouco tempo em que a temperatura lhes parece elevada. Tudo é relativo! Nós preferimos um lugar aconchegante, fechado, para comer e relaxar em ambiente, digamos assim, mais tépido.


Não é muito difícil encontrar um restaurante - mais difícil é escolher - mas nos decidimos por um com serviço bem fraquinho e a comida sem graça. Acho que não é minha noite de sorte na interpretação do cardápio. 
Praças e monumentos
Transporte urbano confortável
Estação ferroviária. (alguém pode explicar a placa em espanhol, na Finlândia?)
Na hora de nosso toque de recolher, as pernas reclamam e argumentam que é impossível fazer a pé o retorno ao hotel. A volta, portanto, foi de táxi, em perfeito entendimento com um motorista que não fala inglês.
Helsinque foi para mim uma grande surpresa. E me despertou enorme admiração.
Daqui iremos para a Rússia. Amanhã cedo.


Hora de guardar os euros e começar a pensar em rublos!

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