quarta-feira, 3 de junho de 2015

Talin, cenário da Estônia medieval

Rodovia e ferrovia 
24 e 25 de maio de 2014 - Da Letônia à Estônia. TALIN é uma beleza!
No trecho da viagem entre Riga e Talin a paisagem mais próxima do litoral tem ares de florestas mesmo, como nós as conhecemos - árvores diversas, coloridas e verdejantes, cores de primavera. Paralela ao nosso caminho, a ferrovia nos acompanha e nos dá inveja. Países que nem estão na lista das maiores economias do mundo já conquistaram o  direito de ir e vir confortavelmente! Vale a pena lembrar aqui: país verdadeiramente rico não é aquele onde o pobre pode ter carro, mas aquele em que o rico anda de transporte público.
Jardins do castelo
Muralhas e torres de pedra
O roteiro, ainda na Letônia, inclui a magia das lendas de princesas, amores proibidos e enredos trágicos. A primeira parada é em Sigulda, situada no Parque Nacional da Gauja, uma zona salpicada de castelos e famosas grutas, que até podem ser verdadeiras, e com certeza o são, mas não vimos nenhuma.
Castelo de Sigulda
Já os castelos são fáceis de avistar, destacando-se na paisagem, sem a elegância dos desenhos da Disney, mas com a solidez das construções medievais que vencem o tempo e as intempéries. 

O Castelo de Sigulda foi construído em 1207, pelos Cavaleiros da Cruz - uma testemunha de pedra das conquistas cristãs da Idade Média. Muita flor nos jardins  bem tratados mostram o cuidado e o orgulho que esse povo tem do seu patrimônio. 

Paisagem de primavera
Chegando-se ao Castelo de Turaida, do alto da montanha é possível apreciar a paisagem local. A floresta tem o mesmo colorido da serra do Rola-Moça, nos arredores de Belo Horizonte - as fotos não mentem.
Túmulo da princesa infeliz
Um túmulo, debaixo de uma árvore, traz a inscrição do nome Roze, ou Rosa, pelo qual era conhecida a princesa Maya, por causa de sua beleza e bondade. Seu fim trágico é o clímax de uma história de amor entre a moça e o jardineiro, enredados na intriga de dois facínoras que levaram a infeliz princesa a sacrificar a vida para resguardar sua honra e lealdade ao namorado. Acusado injustamente de ter assassinado a amada, o jardineiro afinal foi salvo pela confissão de um dos malfeitores, arrependido de sua vilania.  A primeira coisa que o jovem fez ao sair da prisão foi plantar uma árvore para crescer sobre o túmulo da bela Rosa de Turaida. 
Poderio feminino em viagem pelo Leste Europeu. Viva nós!

Perto desse cenário de romance e tragédia, nossa turma se reúne numa foto só de mulheres. Os homens - apenas três maridos dedicados - abrem mão de aparecer na foto, para poder apreciar, de frente, tanta beleza junta!!!!! Ou, talvez, para se revezar na função de fotógrafos voluntários. O fato é que aí estamos, quatro peruanas, três mineiras, duas paulistas e duas paranaenses. Somando os homens, somos 14 viajantes que, a essa altura já estão completamente integrados. Apesar da maioria de brasileiros, os guias não falavam português. Muito temos ainda a conquistar no mundo do turismo. 

Ninho de cegonhas
Vale a pena registrar também o bom humor como traço característico da Letônia, mais uma vez demonstrado nesse conjunto de esculturas de pedra e sucata metálica, uma orquestra plantada no meio dos jardins do castelo.  
E assim deixamos a Letônia, o país das cegonhas, e atingimos terras da Estônia antes da hora do almoço. 
A propósito, a ave símbolo da Estônia é a andorinha, mas acho que ainda não chegaram para o verão.

Balneário de Pàrnu, Estônia


A primeira parada do ônibus na Estônia é em Pàrnu (o acento nesta palavra não existe em nosso arsenal gráfico – é um circunflexo invertido), estância balneária do Báltico, com recomendação de que valeria a pena chegar até à praia, para ver o mar e, depois, almoçar rapidamente. O pessoal com fome deixou a praia para depois. A lentidão do serviço do restaurante Rosie, que escolhemos por causa do nome, toma mais tempo do que o previsto e chegamos atrasados ao ônibus. De praia, nem o cheiro. Mas ainda consigo parar numa vendedora ambulante para comprar um chapeuzinho de tecido de linho muito prático para me proteger desse sol claro e morno. O lugar é lindo, uma cidadezinha charmosa, limpa e bem arborizada.
 No meio da tarde chegamos à capital da Estônia, localizada no golfo da Finlândia, na costa norte do país, banhada pelo Mar Báltico. Seu nome, nos textos turísticos traduzidos do inglês, aparece como Tallinn. Neste país, temos a "Embaixada do Brasil em Talin" portanto este é o seu nome oficial em português. Mas alguns usam Talim.
A cidade tem cerca de 400.000 habitantes, aproximadamente um terço da população do país.  Como todas as que visitamos anteriormente nesta viagem, tem a parte moderna com residências e edifícios comerciais de luxo e o núcleo antigo, encantadoramente preservado. É a mais antiga capital do norte da Europa.

Com o estilo arquitetônico típico da região e ruas sinuosas, a bela Talin não deixa de nos surpreender com soluções urbanísticas peculiares e seus prédios esquisitos. 
Esquisito mas bonito! 
Dizem que uma certa casa alaranjada inspirou
o romance Guerra e Paz, de Leon Tolstoi.
Tudo parece muito pacífico, sereno, despreocupado. Mas não é segredo para ninguém que, ancorados no golfo, em constante vigília, lá estão os encouraçados da OTAN, a proteger a região contra a voracidade conquistadora da Rússia, uma vizinha tão próxima e amiga que dá medo... Que o diga a Ucrânia em luta que não acaba nunca, guerra de irmãos...  Uma tensão em que ninguém ganha e todos perdem. 
Telhados vistos da amurada de um castelo








A bandeira da Estônia tem três listras horizontais de igual largura: uma azul, uma preta e uma branca. O azul simboliza o céu e as águas do mar e dos lagos. Também representa a lealdade ao ideal nacionalista. O negro é a cor da terra do país e das noites longas do inverno. O branco é a cor da neve e das noites brancas sem fim. Simboliza a esperança do povo na felicidade e na luz.
Praia não é atrativo para quem vem do Brasil...
O dia seguinte começou com uma volta de ônibus pela cidade. Foi então que o Mar Báltico surgiu diante de nós, numa praia, a essa hora, ainda quase deserta. As grandes pedras espalhadas sobre a areia são granito das montanhas escandinavas, do outro lado do golfo, trazidas sobre as águas gélidas do mar, com a força das avalanches causadas pelo derretimento das geleiras ao fim da era glacial. Na orla também vimos a Vila Olímpica, sede dos esportes aquáticos das Olimpíadas de Moscou, em 1980, quando a Estônia fazia parte da União Soviética.
O passeio de ônibus termina na visita à Igreja Cristã Ortodoxa de Santo Alexander Nevsky.  O estilo majestoso e rebuscado prenuncia o das igrejas russas que veremos depois.
Muito me impressiona a quantidade de mendigos esmolando junto à escadaria da entrada principal.
Em seguida visitamos a Catedral Luterana. É a primeira construção de pedra e a mais antiga da cidade. Tem uma bela coleção de escudos e móveis antigos. 
Uma rua longa apelidada de "Perna Comprida" nos leva pelo centro histórico a dentro, ora bem estreita, ora um pouco mais larga, com um comércio típico de artigos para turistas e termina perto da Igreja do Espírito Santo dos Pobres, com uma passagem sob um arco aberto para a praça central. 
Início da "Perna Comprida"

Arco no final da "Perna Comprida" dando acesso à praça.
A denominação "Perna Comprida" é usada para contrapor-se á 
Entrada da "Perna Curta"
“Perna Curta”, um túnel escuro que corta caminho por baixo dos prédios – muito assustador, parece sujo, não dá vontade de entrar ali.
A Igreja do Espírito Santo dos Pobres, em sua simplicidade, é muito bonita e tem, como único adorno externo, um grande relógio que funciona. 


Chegar à praça é entrar num mundo colorido e festivo - sem a agitação de Riga. É bom lembrar que é domingo. No meio da praça, um grande palco e som em alto volume de música eletrônica, do rock aos hinos religiosos. Toldos amarelos ou brancos abrigam mesas de restaurantes e casas de chá. As lojas têm decoração típica e os vendedores se vestem com trajes tradicionais de aspecto medieval.
A praça e ruas ao seu redor parecem preparadas para um festival ou um evento folclórico. Mas não, os guias informam que é assim durante os meses quentes do ano. Pela rua circulam figuras fantasiadas para criar a sensação de estar em outra época. 
Roupas medievais típicas para o trabalho não têm os bordados
coloridos do artesanato local
Faz muito calor neste dia. No meio da tarde, somos surpreendidos por um temporal inesperado que transforma as ruas em riachos e encharca nossos sapatos. Corremos para uma garagem vazia e lá ficamos. apertados entre pessoas de várias nacionalidades. Quem está perto do grande portão de madeira toma as decisões - ora abrir uma fresta para não nos sufocarmos, ora fechar tudo para nos proteger das lufadas de vento com chuva. Passou logo, felizmente. 

Voltamos ao hotel para tirar as roupas úmidas. No caminho já estamos quase  secos. 
Uma rua só de flores!
À noite – ainda com um pouco da claridade do sol - jantamos em um restaurante típico, com garçonetes a caráter, garçom falante e comida gostosa. Vinho da casa, de garrafão.

Na rua, de volta para o hotel, passamos por um quarteirão inteiro só de lojas de flores. Variedade, colorido e beleza sem igual. Que rua bonita! Mas penso, impressionada: - haverá demanda para tanta flor? Mercadoria perecível, mas completamente viçosa. Até quando?

Junto à calçada, esperando fregueses, postam-se elegantes carruagens com cavalos ricamente ajaezados, como nas histórias de fadas.
Carruagens para passear à noite. Vamos ao baile da Cinderela?
Esta é uma cidade ataviada para impressionar os visitantes com a exibição de aspectos atraentes de sua cultura. O passado aqui é uma peça teatral, sem texto e protagonistas - apenas figurantes, figurino e cenário. A cidade é um palco. Pelo que Talin nos mostrou, (ou será que foram os guias?) a Estônia não se prende ao culto de heróis da história, da arte ou da religião, como faz a Polônia, nem alardeia os feitos revolucionários como Cuba. Parece mais voltada a apontar as cores, o sabor e a beleza que seu povo é capaz de produzir. Atitude pragmática e ao mesmo tempo simpática, para valorizar seus produtos e atrair turistas. Não se pode negar a beleza incontestável de Talin. Não é de tirar o fôlego como Praga, mas impressiona. 

Talin nos deixa a sensação de que ali existe vida civilizada,  com bom gosto e um certo refinamento na maior simplicidade. Assim como suas irmãs do Báltico que visitamos nesta viagem, encanta os turistas com a sensibilidade estética e as habilidades artesanais de sua gente.


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