terça-feira, 15 de outubro de 2013

VIENA: História e Música 1

27.08.2013: Chegada a Viena.



Não sei que fantasia me fazia esperar uma terra de sonhos, tipo cenário de conto de fadas, cercada de bosques e banhada em música. Em vez disso, surgiu-nos uma bela metrópole moderna e bem arborizada, mas se há bosques como os imaginava,  estes me escaparam ao olhar.

A primeira impressão forte da cidade é a visão da largura de suas avenidas, o desenho moderno dos bondes elétricos, o perfil dos prédios recuperados dos bombardeios da Segunda Guerra Mundial,  a arquitetura contemporânea, belas esculturas por toda parte. 

Chama a atenção também o rio de traçado estranhamente retilíneo que atravessa a cidade. Logo ficamos sabendo tratar-se de um canal do rio Danúbio, construído artificialmente para controlar a vazão das águas e evitar as enchentes por meio do acionamento de eclusas.
O rio mesmo, em seu leito natural, contorna a cidade, mas o transporte fluvial que liga Viena a Bratislava tem seu curso urbano nesse canal. Ali, bem no centro da cidade, fica um porto, com abrigo envidraçado para embarque e desembarque de passageiros.

O Danúbio é o segundo rio mais longo da Europa (depois do Volga), e tem entre 2 845 e 2 888 quilômetros de extensão, atravessando o continente de oeste a leste   desde sua nascente na Floresta Negra,   em terras da Alemanha, até desaguar no mar Negro ,com foz em forma de delta, na Romênia. O delta do Danúbio é uma área natural protegida na Romênia, classificada como patrimônio mundial pela Unesco desde 1991(Wikipedia)

Em nossa passagem pelos monumentos e principais prédios da cidade, a caminho do hotel, Katalyn, nossa guia húngara, deu várias informações sobre a história e as peculiaridades locais, impossível de captar tudo de uma só vez.

Chegamos, enfim, ao Hotel Regina que, sem desmerecer suas quatro estrelas, pode-se classificar como antiquadamente requintado na decoração e tradicional na prestação de serviço.  É um belo prédio antigo localizado numa praça quadrada enorme, pois o que não se pode reclamar em Viena é de exiguidade de espaços.  Menos é claro, no meu quarto, de número 112, bem pequenino, principalmente se comparado aos outros individuais onde me tenho hospedado.
Passado o primeiro choque, no entanto, tomei-me de grande afeto pelo ambiente acolhedor, a mesinha redonda, a pequena poltrona charmosa, a cama de lençóis macios e o banheiro confortavelmente bem equipado. Não que esteja livre de restrições, como por exemplo, à impossibilidade de assistir á TV na cama, pois o aparelho fica no nicho atrás da cabeceira, pode?!
Na primeira noite, jantamos todos juntos no restaurante do próprio hotel e fomos dormir cedo.

28.08.2013
Viena Imperial, noite musical
Pena que está chovendo! Saímos munidos de guarda-chuvas à procura do ônibus turístico que nos levaria ao Castelo de Schönbrunn. O ponto de embarque ficava do outro lado da praça. Ao atravessar a rua, recomenda-se muito cuidado para não ser atropelado pelo bonde elétrico, que desliza suave e silencioso sobre os trilhos e pode, de repente, nos surpreender numa curva. 


Pelo caminho, com orientações por fones em espanhol ou inglês, à escolha (tem também japonês, coreano, alemão, etc) percorremos as ruas da cidade, misturando informações sobre bombardeios e reconstruções, rainhas, imperadores e arquiduques, compositores, óperas e valsas. Minha cabeça, devido às sérias falhas na minha formação histórica, fez uma bela salada, da qual quase nada se pode salvar. Uma pena! 

"Treinamento na escola", de Ludwig Koch



No meio de tanta confusão, um nome me chamou especialmente a atenção, porque de alguma forma se relacionava a conhecimentos recentemente adquiridos nesta viagem. Tratava-se da Escola Espanhola de Equitação, localizada ali, em Viena, uma das mais antigas e tradicionais escolas de hipismo. Suas origens remontam ao século XVI, quando os Habsburgo começaram a criar e treinar cavalos puro sangue vindos da Espanha. Sob essa influência, a Raínha Sissi construiu sua ala de equitação no Castelo de Gödölö, na Hungria, aquele que visitamos no dia 22 de agosto, na semana passada.
Toda a glória imperial está presente em tantos prédios e monumentos que fica impossível conhecer tudo no curto período de nossa permanência na cidade.
Ao fim da manhã, chegamos a Schönbrunn, onde se destaca, pela beleza e grandiosidade, o famoso castelo que serviu de habitação de verão aos poderosos Habsburgo.
Construído como residência para a imperatriz Eleonora Gonzaga entre 1638 e 1643, apenas algumas partes do primeiro palácio sobreviveram aos séculos seguintes, uma vez que cada imperador adicionou ou alterou um pouco o edifício.  
Desde meados do século XVIII, sob o reinado da imperatriz Maria Teresa, o castelo adquiriu sua forma atual e veio a tornar-se  um centro cultural e político até a queda do Império Austríaco no início da primeira Grande Guerra, já no século XX. 
Depois da imperatriz Maria Teresa, este palácio que tem o típico estilo rococó austríaco ganhou poucas modificações. O acréscimo mais marcante após esse período é o Memorial à Guerra Justa (a que conduz à paz), conhecido pelo nome de Gloriette, na forma de uma arcada, erquido em 1775 na extremidade oposta do jardim e pode ser avistado das janelas do castelo. Numa ala lateral situa-se o Schlosstheater (teatro palaciano) inaugurado em 1747 e onde pisaram, entre outros, Joseph Haydn e Wolfgang Amadeus Mozart.
O que este palácio tem de mais importante para nós brasileiros é que aqui viveu até 1817, data de seu casamento com o futuro imperador Pedro I, a arquiduquesa D. Leopoldina de Habsburgo, que veio a desempenhar papel significativo na indepedência do Brasil.

Na visita ao castelo usamos fones de ouvido, com fala em espanhol de uma clareza e conteúdo admiráveis.  Orientava o olhar do visitante para os ambientes visitados, chamava a atenção para os detalhes e contava a história de forma didática e interessante. Essa “modesta” residência de verão seduz pela decoração suntuosa, com destaque para o salão nobre, os jardins à moda dos castelos franceses, o parque e um famoso jardim zoológico, o mais antigo do mundo, que não pudemos conhecer.  O palácio e o seu parque de cerca de 160 hectares está classificado pela UNESCO desde 1996 como patrimônio da humanidade. 
Jardins de Shönbrunn, com a Gloriette ao fundo.
De uma das janelas do castelo, tirei uma péssima foto do jardim pela qual se tem uma idéia da extensão do lugar, ainda que fique bastante comprometida a visão da beleza do parque. Pela foto também se pode entender porque algumas de nós não acompanhamos os mais jovens no passeio a pé na área externa do castelo. 
International Centre, orgão da ONU, em Viena
Cabe aqui uma contextualização histórica. A dinastia Habsburgo, reinou sobre  todo o território do Império Austro-Húngaro durante 600 anos. O castelo de Shönbrunn fez parte dessa história só nos últimos 250 anos, a partir da Imperatriz Maria Teresa, no século XVIII. A Primeira Grande Guerra Mundial, de 1914 a 1918, provocou a queda, não apenas da dinastia, mas também do Império, redesenhando as relações internacionais da região, com repercussão no mundo todo. Os países da Europa, pressionados pelos avanços da ciência e da tecnologia, disputavam entre si o poderio territorial e colonial em que se baseava sua economia. A situação se complicava por tensões ideologicas e étnicas que os dividiam em grupos rivais, formados muito mais pelo mútuo apoio contra inimigos comuns do que pela comunhão de objetivos e ideais. O conflito se agravou quando o arquiduque Francisco Ferdinando (herdeiro do trono austríaco e do império Austro-Húngaro) visitou Sarajevo e teve a audácia de desfilar em carro aberto pela cidade, desafiando a população que tinha ódio aos austríacos. Essa imprudência resultou no seu assassinato, fato que serviu de estopim para a deflagração da guerra que mudou a face da Europa, colocando em choque os grupos rivais, formados por Alemanha, Itália e Império Austro-Húngaro de um lado e, de outro, Rússia, França e Inglaterra.
Voltando ao nosso dia de turistas: - ao retornar à cidade, nosso grupinho formado por Ruth, o casal Ari e Márcia, Flora e eu tivemos ótimo almoço  - vale a pena anotar o nome do restaurante: Gasthaus, perto da Ópera. Essa proximidade definiu o programa da noite, pois ali perto se anunciava o concerto da noite. Fomos abordados por agenciadores a caráter, vestidos como nobres dos tempos românticos que fizeram a glória musical de Viena. Um deles, muito simpático, ajudou-nos a escolher os lugares e nos encaminhou à bilheteria, para comprar os ingressos do concerto.
A tarde foi completada pela visita à igreja católica que fica na praça de nosso hotel. Estava aberta, mas às escuras, cheia de tapumes e em plena atividade de restauração. Creio que o resultado vai ficar ótimo, mas por enquanto, não se consegue ver quase nada.


Nota: Em Viena, Capital Mundial da Música, realizam-se anualmente 15 mil concertos de todo tipo e ordem de grandeza. Ao longo da sua história grandes compositores aí atuaram e exerceram influência: Mozart, Mahler, Haydn, Beethoven e o rei das valsas, Johann Strauss. A Filarmónica de Viena (Wiener Philharmoniker) e os Pequenos Cantores de Viena (Wiener Sängerknaben) são destaques mundiais; a Ópera Vienense (Staatsoper) e a Sala Dourada (Goldene Musikvereinssaal) estão entre os melhores locais de encenação. A capital austríaca é conhecida mundialmente como a cidade da valsa, da opereta e dos musicais.

Após um pequeno descanso no fim da tarde, estávamos prontos para o Concerto, na Ópera. Não podíamos ter escolhido melhor lugar no teatro: um camarote bem em cima do palco, com visão completa da orquestra sem obstáculos. Pudemos apreciar de perto e de dentro, a beleza do prédio, com sua escadaria, salões e obras de arte. Muita gente disputando espaço e oportunidade para tirar fotos com os recepcionistas e suas roupas do século XVIII.


Predominaram na programação peças de Mozart, mas as formas de apresentação  eram bem variadas, incluindo orquestra completa, solo de instrumentos, coro, cantores solistas e dueto vocal. Nenhuma monotonia. 
Um visual encantador. A orquestra toda vestida a caráter, com roupas de época, colorido vibrante. Os cantores também se vestiam de acordo com o papel representado na música. O coro, todo de preto, destacava-se, ao fundo, em contraste com o colorido da orquestra. Difícil descrever aqui o que sentimos com a experiência musical maravilhosa que tivemos. 

 Para encerrar, valsas de Strauss e, como não podia deixar de ser, o “Danúbio Azul”, sublinhado pela iluminação da cena.
Assim terminou um dia de chuva e céu cinzento, iluminado pelas coisas boas que fizemos. 


Chegando ao quarto, surpresa! Uma mensagem anunciava o nascimento de minha sobrinha-neta Alice, no Rio de Janeiro. Que Deus a abençoe, a seus pais e avós. Valeu, vovô Sérgio, meu irmão!

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