sexta-feira, 16 de julho de 2010

Primeiras lembranças.

Entramos no bairro do Carmo. O ônibus especial percorreu a Rua Grão Mogol, do princípio ao fim do calçamento de pedras irregulares, um pé-de-moleque muito tosco. Passamos pela Igreja (na época um barracão muito feio) e pelo Grupo Escolar Presidente Antônio Carlos, que funcionava numa casa velha. Da esquina da Rua Buenos Aires em diante era chão de terra. Pois foi por essa via que o ônibus enveredou, levantando poeira, para chegar ao prédio inacabado do Colégio Sion. Não havia ainda o bairro que viria a se apropriar do nome do colégio.

Começava o ano letivo de 1949, estreando o prédio próprio do colégio, construído em terreno cedido pela Prefeitura, como incentivo à urbanização daquela região, extremo sul da cidade. Foi meu primeiro contato com o que viria ser o bairro Sion, cenário de quase toda a minha vida daí pra frente.

Quando eu estudava no Sion, a gente só chegava lá de especial ou de carro. O bonde parava em frente à Igreja do Carmo e de lá voltava ao Centro. Mais tarde, chegou à Rua Buenos Aires. Mas pouco tempo depois, os bondes foram banidos das vias de Belo Horizonte.

Era praticamente uma área rural. As poucas famílias que ali habitavam, tinham pequenas propriedades perdidas no meio da vegetação. Um mato fechado, cortado por riachos e nascentes cristalinas, com casebres e pequenas chácaras, que logo se transformou num loteamento de sucesso. Sobraram apenas as árvores do Colégio cujo bosque se ligava, então, à vegetação da encosta que leva à atual parte alta do bairro. Dessa fartura de verde, resta agora, no meio de uma grota, a sempre ameaçada Mata das Borboletas. Os córregos foram canalizados, sob a Rua Venezuela e a Avenida Uruguai, e as nascentes se perderam.

Lembro-me de uma chácara perdida no meio da mata, onde se cultivavam várias espécies preciosas de frutíferas e flores tropicais, especialmente os antúrios que enfeitaram a capela do Colégio na missa de nossa formatura do Ginásio, em 1952. Essa chácara e suas plantações deram origem à Flora Sion, que funcionou muitos anos na Avenida Uruguai.

Ali morava também o Sr. Sebastião, começando a formar sua numerosa família. Criava um cavalo, com o qual saía todo dia para buscar laranjas no Mercado Central. Acomodadas em dois grandes cestos sobre o lombo do cavalo, as laranjas eram vendidas pelas ruas e centro da cidade. Assim eram os primeiros habitantes locais. Gente forte, trabalhadora, vida simples e digna.

Aos poucos, houve muitas transformações. A cidade é dinâmica, tudo muda. O bairro foi tomando ares de cidade grande. Tem do bom e do ruim, como tudo na vida.

Vou contar o que lembro, sem compromisso com a realidade exterior. A verdade que vai aparecer é a minha, do jeitinho como está guardada na minha memória. Pode não coincidir com a verdade real, mas é real pra mim.

Um comentário:

  1. Quie delícia poder ver aqui o que sempre disse que vc devería fazer. Contar a todos e de maneira difusora o que semore escutamos de vc. Estar no mundo virtual e poder ler coisas do mundo real, ... que beleza de diversidade. beijos sua seguidora sempre Eliana (Liu)

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