domingo, 12 de janeiro de 2014

PRAGA - Prahe bela! 3



03.09.2013 – Alargando horizontes
Mapa da República Tcheca: ČeskýKrumlov ao sul, perto da fronteira com a Áustria.
O café da manhã do Hotel Corinthia é simplesmente sensacional. Além do ambiente arejado e amplo, com decoração primorosa, a variedade e a fartura de alimentos completam a sensação de conforto que trazemos dos quartos e das noites bem dormidas.

O projeto do dia era alargar os horizontes de nossa experiência tcheca, para além dos limites de Praga, confirmando a suspeita de que tamanha beleza não seria a única do país.

Pois bem, estômagos bem forrados e animados, tomamos a van que nos levaria à região denominada Boêmia do Sul, na República Tcheca, para visitar Český Krumlov, uma cidade histórica considerada pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade.

Antiga capital de uma região então denominada Rosenberg, no auge de seu prestígio, entre os anos de 1300 e 1600, antes do Império Austro-Húngaro, Cesky Krumlov é citada em documentos desde 1253 e, com mais de 300 edifícios históricos, é uma verdadeira viagem no tempo, pois mantém a atmosfera original de uma cidade medieval.
A cidade é muito simples: cercados pelo rio Moldava, estão o casario e a igreja com sua torre em destaque. O interior do castelo só é aberto para visitação nos meses de verão, de abril a outubro, exceto às segundas-feiras. Só são admitidas visitas guiadas e em horários determinados.

A construção da cidade e seu castelo começou no século XIII. A população da cidade em 2005 era de 13.942 habitantes, e a área de cerca de 22 km².


 
Vindo de Praga, no oeste do país até o destino na Boêmia do Sul, percorre-se uns 190 km.

Descemos da van fora dos muros da cidade e percorremos a pé o restante todo da visita, como de costume nas cidades medievais.

Logo na entrada, apresenta-se para nosso deslumbramento o castelo em todo o seu volume e graça, sem que nossas cabeças modernas avaliassem o que seria percorrer aquela maravilha sem fazer uso de elevadores e escadas rolantes.

O rio serpenteia por meio das ruas com suas pontes e curvas, desenhando uma paisagem urbana de beleza encantadora.  As casas apresentam traços de sua história, para quem entende essa linguagem, narrada pela arquitetura medieval, gótica, renascentista e barroca.

O adjetivo 'Český' significa boêmio ou simplesmente tcheco o que, na lingua deles, vale a mesma coisa. O nome Krumlov é derivado da palavra alemã Krumme, que pode ser traduzida como “prado torto”, devido à topografia da cidade, debruçada sobre uma curva acentuada do Rio Moldava (Vtlava). Esse rio é o mesmo que atravessa Praga, mas em Český Krumlov, próximo à sua nascente, ele ainda é pequenino, quase um riacho.


Entrando nas ruas e praças, vemos coisas muito interessantes, tais como a decoração peculiar na pintura das casas e um ar acolhedor nos pequenos restaurantes e bares com mesas ao ar livre ou debaixo de toldos coloridos. Sinal da origem da cidade são as pinturas e pequenos relevos em formato de rosa de cinco pétalas espalhados pelas casas e construções antigas, lembrança da poderosa família Rosenberg a mais rica e influente do país, cujo nome significa “montanha de rosas”.
Visitamos a linda igreja gótica de São Vito, santo muito cultuado neste país, localizada no alto de uma ladeira que exigiu algum esforço para subir. O interior e o órgão mantêm a tradição de beleza e solenidade de outras da mesma idade. As fotos do interior da igreja são proibidas, motivo pelo qual, distraidamente ignorando a proibição, fui duramente repreendida por um zeloso guardião do templo. Mas a foto aí está, testemunha de minha transgressão. Vejam a plaquinha de aviso, tão pequenina!
 Da mureta de um pátio ajardinado tem-se uma visão linda da cidade mais embaixo.  Mas a cidade em geral é pouco acidentada. No entanto, o calçamento é mais rústico do que o da capital e, em alguns lugares requisita atenção maior ao pisar.


A escolha do restaurante, em local de difícil acesso, aparência lúgubre e pouca visibilidade da rua não agradou a todos – apesar de esse tipo de casa ser considerado um dos atrativos da cidade, por sua semelhança com as velhas tavernas de outros tempos. A comida estava muito gostosa. Meus companheiros escolheram conhecer uma iguaria cujo atrativo era a carne de faisão. Para mim, que não a provei, tinha a aparência de um galeto bem passado. Minha escolha, meio na sorte, por não ter muita certeza sobre o significado das palavras no cardápio, foi uma deliciosa carne de porco defumada, bem macia e rosada, com batatas ao forno.
Apesar de dificuldade de acesso na porta e das escadas meio tortas, fiquei numa mesa privilegiada num avarandado sobre o leito do rio, mas não havia lugar para todos nessa área. Foi uma pena não termos nos acomodado todos juntos. Eu fiquei com a turma que escolheu cumprir a programação de visitar o castelo, em mesa separada dos demais. E essa visita levou mais tempo do que o previsto, pois a guia não se informou com antecedência sobre o horário das visitas, o que resultou em mais tempo gasto em espera para entrar no castelo e, com isso,  aumentou também o tempo ocioso dos que nos aguardavam.
O Google nos mostra que esse tempo usado numa espera enfadonha, com alguma orientação turística que realmente faltou, poderia ter sido bem aproveitado: a cidade tem inúmeras galerias e lojas de arte e artesanato. Abriga também alguns bons museus, como o de marionetes, o de tortura e um com réplicas de personagens famosos em cera. O Museu Regional, outra preciosidade do lugar, tem uma coleção de cerca de 40 mil objetos antigos e achados arqueológicos da região da Boêmia.


Fora esse dissabor, a visita ao castelo que fiz em companhia de Márcia e dos senhores Paulo, Carlos e Ary, foi uma maravilha, de uma riqueza sem preço: o mobiliário de época e a disposição dos ambientes que informam sobre usos e costumes – mais simples do que na sede do Império que conhecemos em Viena - o modo de arrumar uma mesa de jantar, as peças de metal, as louças e os cristais, as obras de arte e tapeçarias. No último andar, uma bela galeria com a imagem de Santo Antônio, de onde se descortina uma paisagem panorâmica da cidade.

Esse castelo foi construído no século XIII e é o segundo maior do país. Originalmente gótico, ganhou feições renascentistas no século XVI e, mais tarde, barrocas, no século XVII, já sob domínio da família Eggenberg, que construiu o teatro barroco, hoje o mais antigo da Europa, com um maquinário para mudança de cenários extremamente sofisticado para a época em que foi idealizado.

 Já cansadas e com pressa de nos unirmos ao restante do grupo, Márcia e eu olhamos apenas  a entrada do famoso teatro que dizem estar preservado exatamente como foi construído originalmente. Mais rápidos e lépidos do que esta tia, os rapazes foram lá dentro, enquanto Márcia me acudia na dificuldade de descer as rampas e degraus da saída.

Um aspecto interessante do castelo é a presença de ursos de verdade no fosso sob a ponte da entrada, uma referência aos tempos em que esses animais eram os ferozes guardiões da morada de seus senhores. Hoje, pacificamente, ficam expostos aos olhares do público e ali mesmo se alimentam de legumes e frutas.


Reunidos de novo, na van que nos esperava no estacionamento, tomamos a estrada em direção a Praga e, após uma parada num Mac Donald na rodovia, chegamos à noite ao hotel, onde minha amiga recente, a chaleira elétrica, me esperava para uma chazinho reparador... 
 Cheguei encantada, pois o local que visitamos, com toda sua beleza e conteúdo histórico, tinha tudo para ser o sucesso previsto e desejado pelos meus queridos sobrinhos, organizadores de nossa  incursão pelas paisagens, fatos e encantos desse mundo tão antigo e tão novo para mim.




04 e 05.09.2013 – Últimos dias


Nos dois últimos dias, depois do alargamento de horizontes pelo sul da República Tcheca, os caminhos se estreitaram, entramos no mundo das compras em ambientes fechados, em vez de catedrais visitamos os templos do consumismo, as grandes lojas de departamento, subimos e descemos escadas rolantes. Foi bom ver que as cidades históricas bem conservadas como Praga podem ter uma vida moderna e confortável, com todos os benefícios da atualidade sem perder seu encanto, sem deixar perder-se a memória dos tempos, dos feitos, das lutas e das conquistas. 
No shopping Paladium passamos muitas horas do dia 04, vasculhando todo o estoque de moda, maquiagem, aparelhos de imagem e som, utilidades domésticas e até artigos para cachorros. Fizemos poucas compras, pois os preços em coroa tcheca não permitiam as extravagâncias desejadas.
Mas entrar e sair de lojas, pegar, avaliar e largar objetos, mesmo sem finalizar uma compra é um dos prazeres que as mulheres têm, principalmente em viagens e que raramente os homens parecem entender muito bem. Mas, justiça seja feita, o Ary é um ótimo comparsa de atividades consumistas. Eu prefiro dar palpites sobre roupas que os outros experimentam,  sugerir compras alheias e deliciar-me em comprar pequenas lembranças, coisinhas típicas que não façam muito volume nas malas da volta. No Paladium, Ruth, Flora e eu fomos flagradas pela Márcia enquanto tomamos uma suave massagem relaxante em máquinas públicas no meio do shopping. 

Para o almoço, saímos do shopping e andamos a pé uns duzentos metros até o Café do Hotel Imperial, indicação infalível da Flora, conhecedora dos ambientes mais refinados de Praga. Paulo e Eliana tinham se desgarrado do grupo para ir a outro lugar, à procura de aparelhos eletrônicos.
Salão do Café Imperial
O salão muito chique do Café Imperial foi o cenário de um almoço de alto nível. Minha escolha, como sempre muito feliz, foi um canelone de caranguejo com molho de camarão. Devo lhes afiançar que o molho era mesmo de camarão,
de sabor inconfundível que eu adoro, mas para minha decepção, era só mesmo molho, ao pé da letra, nem um pedacinho do crustáceo. Estou acostumada com molho de camarão que tem camarões, quanto maiores melhor...

Um passeio ao ar livre ao entardecer levou-nos às ruas do centro histórico, onde sempre voltávamos, como se tivéssemos medo de ir embora sem aproveitar bastante a beleza do lugar. Sentadas a uma mesinha de bar, eu e Márcia batemos longos papos, sobre terras e gentes, falamos até de política! 

No dia seguinte - dia 05.09.2013  - era aniversário do Ary, motivo de muitos festejos e brincadeiras. Saímos para compras em lojas de rua, onde procurei os souvenirs de cristal que não se encontram nos shoppings.  Percorremos praticamente todas as lojas da avenida mais larga da cidade, desde a estação Museum até o limite do centro histórico.

A comemoração do Ary foi durante um almoço onde todos nos encontramos, num restaurante italiano em outro shopping do qual não guardei o nome, onde passamos parte da tarde. Foi um belo encerramento, pois depois disso, voltamos ao hotel para arrumar as malas, a fim de sair à uma hora da madrugada, para o aeroporto, iniciando nossa viagem de volta.  

Confesso que me impressionei muito com a qualidade de vida nesses países da Europa tão desconhecidos para mim. Fico me indagando sobre a falácia da classificação dos países mais ricos do mundo, lista da qual o Brasil faz parte entre os primeiros - pois não chegou, há pouco tempo, em 2012 ao posto de sexta  economia do mundo, disputando a posição com o poderoso Reino Unido? Como se explica que esses europeus do centro-leste nem apareçam nessa lista? Sei que  deve haver aí uma metodologia de cálculo, considerando os resultados da economia em termos absolutos, que não é para eu entender mesmo. Mas como o Brasil pode se vangloriar de sua riqueza se ela - a riqueza - não dá a seu povo nem a metade do conforto de que gozam os "pobretões" da Europa que nem têm ainda poder para ingressar no mundo do euro? Socorro, alguém pode me explicar?

E a educação, o respeito, a limpeza, a mobilidade urbana? 
 








Há preços diferentes do transporte coletivo conforme a idade do cidadão: até 60 anos paga-se um preço, de 60 a 70 a metade e acima de 70 a passagem é de graça. Nem por isto os jovens se acham com mais direito aos assentos. Os ônibus e bondes elétricos, assim como o metrô, são grandes e confortáveis. Nem uma vez entramos em um carro desses eventualmente lotado, sem que os mais jovens se levantassem para nos ceder seu lugar. 
Mas em vez de me perder em comparações desvantajosas em relação ao meu país, prefiro fixar meu pensamento nos momentos agradáveis que passamos em completa harmonia, cercados de gentileza, de carinho e de generosidade. 


Aqui termina meu relato, porque tempo de espera em aeroporto, atrasos de voo, dificuldade de conexão são coisas comuns que não merecem detalhamento. O fato é que, depois que me separei da turma em Lisboa, no dia 06.09 de manhã,  pensando em chegar em casa no mesmo dia, em voo direto a BH, só entrei em casa no dia seguinte, tendo passado um pedaço de noite em um hotel de Guarulhos.  Mas, em pleno feriado da Pátria, fiquei feliz de ter chegado - nada como a casa da gente para voltar - e pronta para outra aventura que me aparecer pela frente. 

 

Minha nova amiga Ilka, 
minha concunhada e prima Flora e 
essa família que gira amorosamente em torno de Ruth: 
Paulo e Eliana, 
Mônica, 
Carlos, 
meus sobrinhos Ary e Márcia, 
MUITO OBRIGADA!
Deus proteja sempre essa turma  abençoada, que, no meio de uma comemoração de família, me acolheu e me proporcionou o prazer de uma convivência bem humorada e momentos ora emocionantes ora divertidos, numa viagem que foi toda maravilhosa.
Nota: Como sempre, os trechos em negrito são adaptados do Google.

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