domingo, 5 de janeiro de 2014

PRAGA - Prahe bela! 2



01 e 02.09.2013 – Fé e Arte.

 Depois de algumas tentativas frustradas, acertamos as conexões de metrô e bondes, em direção ao Santuário do Menino Jesus de Praga – na Igreja de Nossa Senhora Vitoriosa.  Ruas tranquilas e casario antigo muito bem conservado. O calçamento perfeito é uma característica de Praga que, com toda sua venerável idade avançada, não descuida do conforto e segurança dos caminhantes.Vejam que piso bonito!
 
Ao entrar na igreja, a emoção aflora. No ar, apenas o som da oração. No altar central a missa rezada em inglês possibilita a participação dos turistas. No ambiente de respeito propício ao recolhimento, os fiéis recitam as orações em voz alta, acompanhando a liturgia. 
 Mesmo quem não segue a missa fica em atitude de oração, olhando em frente ou com os olhos voltados para o altar lateral onde se vê, pequenina e delicada, a imagem do Menino, vestida nesse dia com um manto azul turquesa. É um lindo altar, em mármore e ouro, semelhante a muitas de nossas igrejas. A fé demonstrada pelos fiéis é contagiante.

Na sacristia, visitamos uma espécie de museu dedicado ao Menino Jesus, onde estão expostos presentes e mensagens do mundo inteiro em agradecimento pelas graças recebidas. O presente mais comum são os mantos, guarnecidos de outro e pedrarias, ou com bordados típicos dos países de onde foram enviados. Dizem que a imagem é vestida com todos os mantos de sua coleção - a igreja seleciona o mais adequado a cada ocasião. Entre os mantos expostos, havia um originário do Brasil, branco com bordados nas cores nacionais, sem extravagâncias, graças a Deus.
Depois que a missa acabou, percorremos a igreja, tirando fotos. Fizemos ainda a leitura de uma oração descoberta pelo nosso companheiro de viagem, Paulo, com uma bela proposta de conciliação e de amizade. Só agora, ao escrever aqui, percebi que não anotei nem memorizei essa oração. Vou pedir à Ilka que com certeza a guardou.
Do outro lado da rua, fica a faceta mercantilista do turismo religioso: uma lojinha expõe para venda várias lembrancinhas e reproduções da imagem do Menino Jesus de Praga, em vários tipos de materiais, inclusive em cristal da Boêmia, o produto local mais valorizado.
Deixamos a rua do santuário em estado de graça com a experiência e fizemos um longo passeio a pé, até chegar à Ponte Carlos, a mais bonita da cidade. Antes de atravessar a ponte, paramos para descansar e reabastecer as energias num barzinho de rua. Começara a chover e era bom ter um abrigo sob o toldo. A ideia inicial era um café e água. Mas o bom atendimento e o prazer de estar sentados depois de uma caminhada, fez com que o projeto evoluísse para vinho, café e água com deliciosos acompanhamentos de pão e queijos. Acho que, se a memória não me falha, apareceram até mesmo uns embutidos, não posso garantir...
Ponte Carlos, Praga. Imagem da Internet
 Depois dessa parada estratégica, a chuva cessou e continuamos a caminhada, não sem antes ter que esperar pelo Paulo que subira ao alto de uma das torres e não se cansava de fotografar a paisagem.

Agora, toca a andar sobre a famosa Ponte Carlos (em tcheco Karlův most) uma das muitas que atravessam o rio Moldava (Vtlava). É a mais velha de Praga e a segunda ponte mais antiga existente na República Tcheca. 
 

 Sua construção começou em 1357 por ordem do rei Carlos IV de onde vem o nome pelo qual é conhecida atualmente. Foi finalizada no início do Século XV. Mede 516 metros de comprimento e quase 10 metros de largura. Apoia-se em 16 arcos e tem os acessos protegidos  por 3 torres, duas delas de um lado e uma do outro, na chegada à Cidade Velha, esta última considerada por muitos como uma das construções mais impressionantes da arquitetura gótica no mundo. Com as silhuetas de castelos de contos de fada ao fundo e com uma galeria de 30 estátuas barrocas nos seus lados, não surpreende que a Ponte Carlos esteja entre os lugares mais belos da Europa. Curiosidade: A partir de 1965, todas as estátuas  foram sendo substituídas por réplicas e as originais passaram a ser exibidas no Museu Nacional. Esse procedimento é comum na Europa(como é por exemplo o caso das estátuas em mármore de Michelangelo em Florença). 
Não sei por que não se faz o mesmo com os profetas do Aleijadinho no Brasil, esculturas barrocas expostas à deterioração, mesmo com material muito mais frágil que é a nossa pedra sabão. 
Ao longo da travessia, de cada ângulo uma nova surpresa com a beleza de tudo em volta: o rio refletindo a cor do céu e o brilho do sol, as construções das margens, as embarcações navegando serenas, a variedade de pessoas de diferentes origens cujo colorido das vestes insinua e nos instiga a adivinhar a possível etnia. E, acima de tudo, as estátuas imponentes com riqueza de detalhes que a gente não se cansa de admirar.
Santo Antônio de Pádua


Reconheci as imagens de Nossa Senhora do Carmo, Santo Antônio e alguns outros. 

A estátua de São João de Nepomuceno é a mais famosa entre os 30 grupos esculturais. Reza a lenda que  o relevo de bronze ao pé do santo transmite a “sorte de Praga” a quem o tocar. Foi da Ponte Carlos que o corpo do santo foi atirado ao rio, depois de sofrer tortura por ter-se recusado a revelar um segredo que a Rainha lhe contara em confissão.
Interessante ver as coisas com bons companheiros. Ary e Márcia me ajudam a apreciar tudo com alegria, gentileza e senso de humor. 
Ao longo da ponte chamou-me especialmente a atenção, um bom número de mendigos, com vestes típicas do oriente médio, mantendo uma certa distância uns dos outros, com certeza para não parecerem um grupo, sobre seus tapetinhos, em posição de prece com o rosto no chão, cada um deles protegido por um enorme cão de pelo escuro. Tinham à frente uma tigela para esmolas e com certeza estavam menos atentos à oração do que ao tilintar de eventuais moedas que ali caíssem.
 Ao sair da ponte, entramos nas ruelas da Cidade Velha e passamos pelo Teatro Negro, onde compramos ingresso para o dia seguinte. Seguimos em frente, para a feira de artesanato e, por fim, à nossa conhecida Praça do Relógio onde, por fim, paramos para almoçar. Flora queria nos mostrar ali numa das esquinas da praça, o restaurante do luxuoso Hotel du Prince onde ela estivera hospedada com Lúcio há alguns anos, mas estava lotado e não pudemos entrar.
Almoçamos no “Oliva Verde”, restaurante português onde não se falava nossa língua e saboreei um goulash muito gostoso. Pois é, no meio da tarde, comida húngara numa casa lusitana onde de fala inglês para turistas! Isto é que é ecletismo cultural!
Por fim, sem erro nem controvérsias, o metrô para o Hotel pôs um ponto final em um domingo cheio, na maior tranquilidade. Sem jantar, pois o almoço tinha sido tão tarde, tomei um chá feito na chaleira elétrica do quarto. Depois de um pouquinho de leitura, o sono não se fez de rogado: veio bem cedo.

No dia seguinte, segunda-feira, dia 2 de setembro, a turma dividiu-se em dois grupos, um para cada lado. Fiquei com Carlinhos, Paulo, Eliana e Ilka. Já bem escolados, tomamos o metrô até I-Pavlova, depois o bonde 22 em direção à parte alta da cidade e chegamos ao Castelo de Praga.

É um enorme complexo arquitetônico, com várias utilizações: museu, catedral, capela, galeria de arte, convento, palácio governamental.  Impossível visitar tudo. Esta fachada enorme que se vê na foto é apenas a "ponta do iceberg". A gente atravessa por um pórtico guardado por um soldadinho que mal cabe na guarita e aí então é que se vê toda a grandiosidade do lugar. 
Lá dentro há um pátio interno enorme circundado por vários edifícios.

Por influência do Carlinhos, interessado em obras de arte, optamos por visitar em primeiro lugar  a “Prague Castle Picture Gallery”, ou seja a galeria de arte do Castelo.  São três grandes salões dedicados à esposição permanente do acervo da casa, (abaixo, foto de um deles) com significativa presença de obras do Renascimento, entre as quais peças de Veronese, Rubens, Ticiano e outros que não anotei. Coleção de peso, muito bem organizada. 
Havia uma pequena área destinada a exposição temporária que na ocasião apresentava aquarelas lindíssimas de artistas tchecos com cenas do quotidiano. Um bom exemplo de uso da tecnologia para proteção das aquarelas, obras especialmente frágeis.
 
Em seguida, atravessamos o pátio do castelo e fomos, no lado oposto, à Catedral de São Vito – grandiosa, muito bela, estilo gótico, com um grande aparato de segurança.   



Apreciamos grandes esculturas, túmulos de mármore, vitrais maravilhosos, um altar todo de prata maciça, gradis trabalhados com detalhes revestidos de ouro, um órgão imenso. Por medida de segurança as áreas destinadas à oração são isoladas e a fila para ver a relíquia do Santo é submetida a severa vigilância. 
Ainda que encantada com a beleza incontestável, mas impedida de sentar nos bancos, não gostei da forma de proteção ao patrimônio que dificulta a expressão da fé e desestimula a oração. Foi uma visita fria, não me senti numa igreja como nas outras que visitei. No entanto valeu a pena, pela beleza e riqueza do ambiente - e, na verdade, não deixei de fazer minhas preces e lembrar da família e dos amigos.
 Um chocolate quente no terraço do Starbruks e a linda vista da cidade nos deram o descanso necessário para reunir forças para nova etapa da visita. A propósito do Starbruk do castelo, não posso deixar de registrar o seguinte: escolhemos ficar no terraço, com acesso diretamente da rua, poucos degraus acima do nível do chão. A parte interna ficava um andar abaixo. (Uma pequena explicação: de um lado o terraço fica pouco acima do nível da rua. Do outro lado, vejam na foto: é altíssimo. Significa que são muitos andares por baixo). Na abertura da escada que leva aos andares inferiores, havia uma tabuleta com uma seta que apontava para baixo: TOILETTE(assim mesmo, em francês, uma palavra universal). Oba! Era o que procurávamos. Seguindo a seta, começamos uma descida que a cada lance nos surpreendia com mais um lance. Assim descemos cinco níveis! Onde já se viu coisa assim? E ao chegar lá em baixo, ficamos sabendo que para entrar no toalete era preciso digitar a senha do bilhete de caixa que ficara com os rapazes, na mesa! Felizmente, uma mocinha que saía, gentilmente segurou a porta e nos deu entrada. Que experiência! Tenho certeza de que não havia sequer um aviso visível sobre a exigência de senha para o toalete, em qualquer idioma deste mundo!
Carlos, Leda, Ilka e Eliana
Quando deixamos o café, passamos pelo pátio externo do palácio do governo, onde naquele momento se fazia a troca da guarda, uma bela cerimônia militar, acompanhada de música tocada por instrumentistas posicionados nas janelas e sacadas do castelo – ao estilo do que vemos na Vesperata de Diamantina, MG. (Com certeza eles copiaram de nós...) Os guardas que marcham no pátio em evoluções sincronizadas, muito bem uniformizados, são modelo de disciplina e coordenação de movimentos. São homens muito bonitos e esbeltos, na maioria, mas vi alguns baixinhos e até um gorducho – que não atrapalham a harmonia do conjunto mas contradizem a fama transmitida no boca a boca dos que turisteiam por aquelas plagas...
Já na rua, paramos um pouco para ouvir um conjunto de cordas que tocava lindas melodias. Bom arremate para um belo passeio. 
Caminho de volta: Bonde 22 ; Metrô estação Muste (linha verde); estação Museum (linha vermelha); estação Vysehrad; Hotel Corinthia.
Chegamos ao Hotel no meio da tarde, para um bom descanso, pois à noite haveria teatro.
Noite: Encontrei Ruth, Ary e Márcia, Paulo e Eliana no saguão do hotel e saímos de Metrõ em direção à cidade velha. O teatrinho é pequeno e tem uma cafeteria na entrada. Enquanto tomamos um café, curiosos por conhecer esse tipo de encenação, que para mim pelo menos era novidade, estávamos ansiosos pelo início da sessão. Vimos um espetáculo diferente, em que o jogo de luzes e sombras nos envolve num mundo de fantasia e ilusão de ótica. Muito interessante, apesar da ingenuidade dos temas. A primeira parte é mais infantil e a segunda, com certa permissividade forçada, tenta sugerir humor adulto sem muito sucesso. 
Teatro Negro de Praga - imagem da Internet
O Teatro Negro (em tcheco: černé divadlo) é um tipo de representação cênica caracterizada pelo uso do cenário na escuridão com jogo de luz e sombras. Apesar do formato estar disseminado no mundo todo, e ter supostamente sua origem no extremo oriente, é predominante em Praga, República Tcheca, onde é considerado uma autêntica manifestação da cultura local e existem cerca de nove companhias em atividade. O formato se distingue de outros tipos de representação teatral, mas o conteúdo se aproxima um pouco dos espetáculos de circo. Utilizam-se cortinas pretas, um cenário de cor escura, lanternas de luz negra, trajes fosforescentes, danças, representações mímicas e acrobacias. Uma mistura de atores com bonecos, figuras e objetos que se movem manipulados no escuro.
Uma nova linguagem e cores, com o uso das luzes ultravioleta surgiu em Praga durante o regime comunista como forma de expressar opiniões e ideias, especialmente em um contexto totalitário em que era necessário usar a criatividade contra a repressão. O palco escuro e o espetáculo mudo seriam referências ao regime.
Voltamos de taxi para uma ceia leve de chá com queijos no bar do hotel.
No dia seguinte, vamos fazer um passeio distante – vamos conhecer Cesky Krumlov, uma cidade patrimônio da humanidade. 
(os trechos em negrito são extraídos e adaptados do Google)

Um comentário:

  1. Lêda, obrigada por compartilhar. Adorei e fiquei especialmente encantada com o órgão da igreja do Menino Jesus... Vamos torcer para que seja possível preservar as obras do Aleijadinho de forma mais sensata... Beijos.

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