domingo, 12 de janeiro de 2014

PRAGA - Prahe bela! 3



03.09.2013 – Alargando horizontes
Mapa da República Tcheca: ČeskýKrumlov ao sul, perto da fronteira com a Áustria.
O café da manhã do Hotel Corinthia é simplesmente sensacional. Além do ambiente arejado e amplo, com decoração primorosa, a variedade e a fartura de alimentos completam a sensação de conforto que trazemos dos quartos e das noites bem dormidas.

O projeto do dia era alargar os horizontes de nossa experiência tcheca, para além dos limites de Praga, confirmando a suspeita de que tamanha beleza não seria a única do país.

Pois bem, estômagos bem forrados e animados, tomamos a van que nos levaria à região denominada Boêmia do Sul, na República Tcheca, para visitar Český Krumlov, uma cidade histórica considerada pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade.

Antiga capital de uma região então denominada Rosenberg, no auge de seu prestígio, entre os anos de 1300 e 1600, antes do Império Austro-Húngaro, Cesky Krumlov é citada em documentos desde 1253 e, com mais de 300 edifícios históricos, é uma verdadeira viagem no tempo, pois mantém a atmosfera original de uma cidade medieval.
A cidade é muito simples: cercados pelo rio Moldava, estão o casario e a igreja com sua torre em destaque. O interior do castelo só é aberto para visitação nos meses de verão, de abril a outubro, exceto às segundas-feiras. Só são admitidas visitas guiadas e em horários determinados.

A construção da cidade e seu castelo começou no século XIII. A população da cidade em 2005 era de 13.942 habitantes, e a área de cerca de 22 km².


 
Vindo de Praga, no oeste do país até o destino na Boêmia do Sul, percorre-se uns 190 km.

Descemos da van fora dos muros da cidade e percorremos a pé o restante todo da visita, como de costume nas cidades medievais.

Logo na entrada, apresenta-se para nosso deslumbramento o castelo em todo o seu volume e graça, sem que nossas cabeças modernas avaliassem o que seria percorrer aquela maravilha sem fazer uso de elevadores e escadas rolantes.

O rio serpenteia por meio das ruas com suas pontes e curvas, desenhando uma paisagem urbana de beleza encantadora.  As casas apresentam traços de sua história, para quem entende essa linguagem, narrada pela arquitetura medieval, gótica, renascentista e barroca.

O adjetivo 'Český' significa boêmio ou simplesmente tcheco o que, na lingua deles, vale a mesma coisa. O nome Krumlov é derivado da palavra alemã Krumme, que pode ser traduzida como “prado torto”, devido à topografia da cidade, debruçada sobre uma curva acentuada do Rio Moldava (Vtlava). Esse rio é o mesmo que atravessa Praga, mas em Český Krumlov, próximo à sua nascente, ele ainda é pequenino, quase um riacho.


Entrando nas ruas e praças, vemos coisas muito interessantes, tais como a decoração peculiar na pintura das casas e um ar acolhedor nos pequenos restaurantes e bares com mesas ao ar livre ou debaixo de toldos coloridos. Sinal da origem da cidade são as pinturas e pequenos relevos em formato de rosa de cinco pétalas espalhados pelas casas e construções antigas, lembrança da poderosa família Rosenberg a mais rica e influente do país, cujo nome significa “montanha de rosas”.
Visitamos a linda igreja gótica de São Vito, santo muito cultuado neste país, localizada no alto de uma ladeira que exigiu algum esforço para subir. O interior e o órgão mantêm a tradição de beleza e solenidade de outras da mesma idade. As fotos do interior da igreja são proibidas, motivo pelo qual, distraidamente ignorando a proibição, fui duramente repreendida por um zeloso guardião do templo. Mas a foto aí está, testemunha de minha transgressão. Vejam a plaquinha de aviso, tão pequenina!
 Da mureta de um pátio ajardinado tem-se uma visão linda da cidade mais embaixo.  Mas a cidade em geral é pouco acidentada. No entanto, o calçamento é mais rústico do que o da capital e, em alguns lugares requisita atenção maior ao pisar.


A escolha do restaurante, em local de difícil acesso, aparência lúgubre e pouca visibilidade da rua não agradou a todos – apesar de esse tipo de casa ser considerado um dos atrativos da cidade, por sua semelhança com as velhas tavernas de outros tempos. A comida estava muito gostosa. Meus companheiros escolheram conhecer uma iguaria cujo atrativo era a carne de faisão. Para mim, que não a provei, tinha a aparência de um galeto bem passado. Minha escolha, meio na sorte, por não ter muita certeza sobre o significado das palavras no cardápio, foi uma deliciosa carne de porco defumada, bem macia e rosada, com batatas ao forno.
Apesar de dificuldade de acesso na porta e das escadas meio tortas, fiquei numa mesa privilegiada num avarandado sobre o leito do rio, mas não havia lugar para todos nessa área. Foi uma pena não termos nos acomodado todos juntos. Eu fiquei com a turma que escolheu cumprir a programação de visitar o castelo, em mesa separada dos demais. E essa visita levou mais tempo do que o previsto, pois a guia não se informou com antecedência sobre o horário das visitas, o que resultou em mais tempo gasto em espera para entrar no castelo e, com isso,  aumentou também o tempo ocioso dos que nos aguardavam.
O Google nos mostra que esse tempo usado numa espera enfadonha, com alguma orientação turística que realmente faltou, poderia ter sido bem aproveitado: a cidade tem inúmeras galerias e lojas de arte e artesanato. Abriga também alguns bons museus, como o de marionetes, o de tortura e um com réplicas de personagens famosos em cera. O Museu Regional, outra preciosidade do lugar, tem uma coleção de cerca de 40 mil objetos antigos e achados arqueológicos da região da Boêmia.


Fora esse dissabor, a visita ao castelo que fiz em companhia de Márcia e dos senhores Paulo, Carlos e Ary, foi uma maravilha, de uma riqueza sem preço: o mobiliário de época e a disposição dos ambientes que informam sobre usos e costumes – mais simples do que na sede do Império que conhecemos em Viena - o modo de arrumar uma mesa de jantar, as peças de metal, as louças e os cristais, as obras de arte e tapeçarias. No último andar, uma bela galeria com a imagem de Santo Antônio, de onde se descortina uma paisagem panorâmica da cidade.

Esse castelo foi construído no século XIII e é o segundo maior do país. Originalmente gótico, ganhou feições renascentistas no século XVI e, mais tarde, barrocas, no século XVII, já sob domínio da família Eggenberg, que construiu o teatro barroco, hoje o mais antigo da Europa, com um maquinário para mudança de cenários extremamente sofisticado para a época em que foi idealizado.

 Já cansadas e com pressa de nos unirmos ao restante do grupo, Márcia e eu olhamos apenas  a entrada do famoso teatro que dizem estar preservado exatamente como foi construído originalmente. Mais rápidos e lépidos do que esta tia, os rapazes foram lá dentro, enquanto Márcia me acudia na dificuldade de descer as rampas e degraus da saída.

Um aspecto interessante do castelo é a presença de ursos de verdade no fosso sob a ponte da entrada, uma referência aos tempos em que esses animais eram os ferozes guardiões da morada de seus senhores. Hoje, pacificamente, ficam expostos aos olhares do público e ali mesmo se alimentam de legumes e frutas.


Reunidos de novo, na van que nos esperava no estacionamento, tomamos a estrada em direção a Praga e, após uma parada num Mac Donald na rodovia, chegamos à noite ao hotel, onde minha amiga recente, a chaleira elétrica, me esperava para uma chazinho reparador... 
 Cheguei encantada, pois o local que visitamos, com toda sua beleza e conteúdo histórico, tinha tudo para ser o sucesso previsto e desejado pelos meus queridos sobrinhos, organizadores de nossa  incursão pelas paisagens, fatos e encantos desse mundo tão antigo e tão novo para mim.




04 e 05.09.2013 – Últimos dias


Nos dois últimos dias, depois do alargamento de horizontes pelo sul da República Tcheca, os caminhos se estreitaram, entramos no mundo das compras em ambientes fechados, em vez de catedrais visitamos os templos do consumismo, as grandes lojas de departamento, subimos e descemos escadas rolantes. Foi bom ver que as cidades históricas bem conservadas como Praga podem ter uma vida moderna e confortável, com todos os benefícios da atualidade sem perder seu encanto, sem deixar perder-se a memória dos tempos, dos feitos, das lutas e das conquistas. 
No shopping Paladium passamos muitas horas do dia 04, vasculhando todo o estoque de moda, maquiagem, aparelhos de imagem e som, utilidades domésticas e até artigos para cachorros. Fizemos poucas compras, pois os preços em coroa tcheca não permitiam as extravagâncias desejadas.
Mas entrar e sair de lojas, pegar, avaliar e largar objetos, mesmo sem finalizar uma compra é um dos prazeres que as mulheres têm, principalmente em viagens e que raramente os homens parecem entender muito bem. Mas, justiça seja feita, o Ary é um ótimo comparsa de atividades consumistas. Eu prefiro dar palpites sobre roupas que os outros experimentam,  sugerir compras alheias e deliciar-me em comprar pequenas lembranças, coisinhas típicas que não façam muito volume nas malas da volta. No Paladium, Ruth, Flora e eu fomos flagradas pela Márcia enquanto tomamos uma suave massagem relaxante em máquinas públicas no meio do shopping. 

Para o almoço, saímos do shopping e andamos a pé uns duzentos metros até o Café do Hotel Imperial, indicação infalível da Flora, conhecedora dos ambientes mais refinados de Praga. Paulo e Eliana tinham se desgarrado do grupo para ir a outro lugar, à procura de aparelhos eletrônicos.
Salão do Café Imperial
O salão muito chique do Café Imperial foi o cenário de um almoço de alto nível. Minha escolha, como sempre muito feliz, foi um canelone de caranguejo com molho de camarão. Devo lhes afiançar que o molho era mesmo de camarão,
de sabor inconfundível que eu adoro, mas para minha decepção, era só mesmo molho, ao pé da letra, nem um pedacinho do crustáceo. Estou acostumada com molho de camarão que tem camarões, quanto maiores melhor...

Um passeio ao ar livre ao entardecer levou-nos às ruas do centro histórico, onde sempre voltávamos, como se tivéssemos medo de ir embora sem aproveitar bastante a beleza do lugar. Sentadas a uma mesinha de bar, eu e Márcia batemos longos papos, sobre terras e gentes, falamos até de política! 

No dia seguinte - dia 05.09.2013  - era aniversário do Ary, motivo de muitos festejos e brincadeiras. Saímos para compras em lojas de rua, onde procurei os souvenirs de cristal que não se encontram nos shoppings.  Percorremos praticamente todas as lojas da avenida mais larga da cidade, desde a estação Museum até o limite do centro histórico.

A comemoração do Ary foi durante um almoço onde todos nos encontramos, num restaurante italiano em outro shopping do qual não guardei o nome, onde passamos parte da tarde. Foi um belo encerramento, pois depois disso, voltamos ao hotel para arrumar as malas, a fim de sair à uma hora da madrugada, para o aeroporto, iniciando nossa viagem de volta.  

Confesso que me impressionei muito com a qualidade de vida nesses países da Europa tão desconhecidos para mim. Fico me indagando sobre a falácia da classificação dos países mais ricos do mundo, lista da qual o Brasil faz parte entre os primeiros - pois não chegou, há pouco tempo, em 2012 ao posto de sexta  economia do mundo, disputando a posição com o poderoso Reino Unido? Como se explica que esses europeus do centro-leste nem apareçam nessa lista? Sei que  deve haver aí uma metodologia de cálculo, considerando os resultados da economia em termos absolutos, que não é para eu entender mesmo. Mas como o Brasil pode se vangloriar de sua riqueza se ela - a riqueza - não dá a seu povo nem a metade do conforto de que gozam os "pobretões" da Europa que nem têm ainda poder para ingressar no mundo do euro? Socorro, alguém pode me explicar?

E a educação, o respeito, a limpeza, a mobilidade urbana? 
 








Há preços diferentes do transporte coletivo conforme a idade do cidadão: até 60 anos paga-se um preço, de 60 a 70 a metade e acima de 70 a passagem é de graça. Nem por isto os jovens se acham com mais direito aos assentos. Os ônibus e bondes elétricos, assim como o metrô, são grandes e confortáveis. Nem uma vez entramos em um carro desses eventualmente lotado, sem que os mais jovens se levantassem para nos ceder seu lugar. 
Mas em vez de me perder em comparações desvantajosas em relação ao meu país, prefiro fixar meu pensamento nos momentos agradáveis que passamos em completa harmonia, cercados de gentileza, de carinho e de generosidade. 


Aqui termina meu relato, porque tempo de espera em aeroporto, atrasos de voo, dificuldade de conexão são coisas comuns que não merecem detalhamento. O fato é que, depois que me separei da turma em Lisboa, no dia 06.09 de manhã,  pensando em chegar em casa no mesmo dia, em voo direto a BH, só entrei em casa no dia seguinte, tendo passado um pedaço de noite em um hotel de Guarulhos.  Mas, em pleno feriado da Pátria, fiquei feliz de ter chegado - nada como a casa da gente para voltar - e pronta para outra aventura que me aparecer pela frente. 

 

Minha nova amiga Ilka, 
minha concunhada e prima Flora e 
essa família que gira amorosamente em torno de Ruth: 
Paulo e Eliana, 
Mônica, 
Carlos, 
meus sobrinhos Ary e Márcia, 
MUITO OBRIGADA!
Deus proteja sempre essa turma  abençoada, que, no meio de uma comemoração de família, me acolheu e me proporcionou o prazer de uma convivência bem humorada e momentos ora emocionantes ora divertidos, numa viagem que foi toda maravilhosa.
Nota: Como sempre, os trechos em negrito são adaptados do Google.

domingo, 5 de janeiro de 2014

PRAGA - Prahe bela! 2



01 e 02.09.2013 – Fé e Arte.

 Depois de algumas tentativas frustradas, acertamos as conexões de metrô e bondes, em direção ao Santuário do Menino Jesus de Praga – na Igreja de Nossa Senhora Vitoriosa.  Ruas tranquilas e casario antigo muito bem conservado. O calçamento perfeito é uma característica de Praga que, com toda sua venerável idade avançada, não descuida do conforto e segurança dos caminhantes.Vejam que piso bonito!
 
Ao entrar na igreja, a emoção aflora. No ar, apenas o som da oração. No altar central a missa rezada em inglês possibilita a participação dos turistas. No ambiente de respeito propício ao recolhimento, os fiéis recitam as orações em voz alta, acompanhando a liturgia. 
 Mesmo quem não segue a missa fica em atitude de oração, olhando em frente ou com os olhos voltados para o altar lateral onde se vê, pequenina e delicada, a imagem do Menino, vestida nesse dia com um manto azul turquesa. É um lindo altar, em mármore e ouro, semelhante a muitas de nossas igrejas. A fé demonstrada pelos fiéis é contagiante.

Na sacristia, visitamos uma espécie de museu dedicado ao Menino Jesus, onde estão expostos presentes e mensagens do mundo inteiro em agradecimento pelas graças recebidas. O presente mais comum são os mantos, guarnecidos de outro e pedrarias, ou com bordados típicos dos países de onde foram enviados. Dizem que a imagem é vestida com todos os mantos de sua coleção - a igreja seleciona o mais adequado a cada ocasião. Entre os mantos expostos, havia um originário do Brasil, branco com bordados nas cores nacionais, sem extravagâncias, graças a Deus.
Depois que a missa acabou, percorremos a igreja, tirando fotos. Fizemos ainda a leitura de uma oração descoberta pelo nosso companheiro de viagem, Paulo, com uma bela proposta de conciliação e de amizade. Só agora, ao escrever aqui, percebi que não anotei nem memorizei essa oração. Vou pedir à Ilka que com certeza a guardou.
Do outro lado da rua, fica a faceta mercantilista do turismo religioso: uma lojinha expõe para venda várias lembrancinhas e reproduções da imagem do Menino Jesus de Praga, em vários tipos de materiais, inclusive em cristal da Boêmia, o produto local mais valorizado.
Deixamos a rua do santuário em estado de graça com a experiência e fizemos um longo passeio a pé, até chegar à Ponte Carlos, a mais bonita da cidade. Antes de atravessar a ponte, paramos para descansar e reabastecer as energias num barzinho de rua. Começara a chover e era bom ter um abrigo sob o toldo. A ideia inicial era um café e água. Mas o bom atendimento e o prazer de estar sentados depois de uma caminhada, fez com que o projeto evoluísse para vinho, café e água com deliciosos acompanhamentos de pão e queijos. Acho que, se a memória não me falha, apareceram até mesmo uns embutidos, não posso garantir...
Ponte Carlos, Praga. Imagem da Internet
 Depois dessa parada estratégica, a chuva cessou e continuamos a caminhada, não sem antes ter que esperar pelo Paulo que subira ao alto de uma das torres e não se cansava de fotografar a paisagem.

Agora, toca a andar sobre a famosa Ponte Carlos (em tcheco Karlův most) uma das muitas que atravessam o rio Moldava (Vtlava). É a mais velha de Praga e a segunda ponte mais antiga existente na República Tcheca. 
 

 Sua construção começou em 1357 por ordem do rei Carlos IV de onde vem o nome pelo qual é conhecida atualmente. Foi finalizada no início do Século XV. Mede 516 metros de comprimento e quase 10 metros de largura. Apoia-se em 16 arcos e tem os acessos protegidos  por 3 torres, duas delas de um lado e uma do outro, na chegada à Cidade Velha, esta última considerada por muitos como uma das construções mais impressionantes da arquitetura gótica no mundo. Com as silhuetas de castelos de contos de fada ao fundo e com uma galeria de 30 estátuas barrocas nos seus lados, não surpreende que a Ponte Carlos esteja entre os lugares mais belos da Europa. Curiosidade: A partir de 1965, todas as estátuas  foram sendo substituídas por réplicas e as originais passaram a ser exibidas no Museu Nacional. Esse procedimento é comum na Europa(como é por exemplo o caso das estátuas em mármore de Michelangelo em Florença). 
Não sei por que não se faz o mesmo com os profetas do Aleijadinho no Brasil, esculturas barrocas expostas à deterioração, mesmo com material muito mais frágil que é a nossa pedra sabão. 
Ao longo da travessia, de cada ângulo uma nova surpresa com a beleza de tudo em volta: o rio refletindo a cor do céu e o brilho do sol, as construções das margens, as embarcações navegando serenas, a variedade de pessoas de diferentes origens cujo colorido das vestes insinua e nos instiga a adivinhar a possível etnia. E, acima de tudo, as estátuas imponentes com riqueza de detalhes que a gente não se cansa de admirar.
Santo Antônio de Pádua


Reconheci as imagens de Nossa Senhora do Carmo, Santo Antônio e alguns outros. 

A estátua de São João de Nepomuceno é a mais famosa entre os 30 grupos esculturais. Reza a lenda que  o relevo de bronze ao pé do santo transmite a “sorte de Praga” a quem o tocar. Foi da Ponte Carlos que o corpo do santo foi atirado ao rio, depois de sofrer tortura por ter-se recusado a revelar um segredo que a Rainha lhe contara em confissão.
Interessante ver as coisas com bons companheiros. Ary e Márcia me ajudam a apreciar tudo com alegria, gentileza e senso de humor. 
Ao longo da ponte chamou-me especialmente a atenção, um bom número de mendigos, com vestes típicas do oriente médio, mantendo uma certa distância uns dos outros, com certeza para não parecerem um grupo, sobre seus tapetinhos, em posição de prece com o rosto no chão, cada um deles protegido por um enorme cão de pelo escuro. Tinham à frente uma tigela para esmolas e com certeza estavam menos atentos à oração do que ao tilintar de eventuais moedas que ali caíssem.
 Ao sair da ponte, entramos nas ruelas da Cidade Velha e passamos pelo Teatro Negro, onde compramos ingresso para o dia seguinte. Seguimos em frente, para a feira de artesanato e, por fim, à nossa conhecida Praça do Relógio onde, por fim, paramos para almoçar. Flora queria nos mostrar ali numa das esquinas da praça, o restaurante do luxuoso Hotel du Prince onde ela estivera hospedada com Lúcio há alguns anos, mas estava lotado e não pudemos entrar.
Almoçamos no “Oliva Verde”, restaurante português onde não se falava nossa língua e saboreei um goulash muito gostoso. Pois é, no meio da tarde, comida húngara numa casa lusitana onde de fala inglês para turistas! Isto é que é ecletismo cultural!
Por fim, sem erro nem controvérsias, o metrô para o Hotel pôs um ponto final em um domingo cheio, na maior tranquilidade. Sem jantar, pois o almoço tinha sido tão tarde, tomei um chá feito na chaleira elétrica do quarto. Depois de um pouquinho de leitura, o sono não se fez de rogado: veio bem cedo.

No dia seguinte, segunda-feira, dia 2 de setembro, a turma dividiu-se em dois grupos, um para cada lado. Fiquei com Carlinhos, Paulo, Eliana e Ilka. Já bem escolados, tomamos o metrô até I-Pavlova, depois o bonde 22 em direção à parte alta da cidade e chegamos ao Castelo de Praga.

É um enorme complexo arquitetônico, com várias utilizações: museu, catedral, capela, galeria de arte, convento, palácio governamental.  Impossível visitar tudo. Esta fachada enorme que se vê na foto é apenas a "ponta do iceberg". A gente atravessa por um pórtico guardado por um soldadinho que mal cabe na guarita e aí então é que se vê toda a grandiosidade do lugar. 
Lá dentro há um pátio interno enorme circundado por vários edifícios.

Por influência do Carlinhos, interessado em obras de arte, optamos por visitar em primeiro lugar  a “Prague Castle Picture Gallery”, ou seja a galeria de arte do Castelo.  São três grandes salões dedicados à esposição permanente do acervo da casa, (abaixo, foto de um deles) com significativa presença de obras do Renascimento, entre as quais peças de Veronese, Rubens, Ticiano e outros que não anotei. Coleção de peso, muito bem organizada. 
Havia uma pequena área destinada a exposição temporária que na ocasião apresentava aquarelas lindíssimas de artistas tchecos com cenas do quotidiano. Um bom exemplo de uso da tecnologia para proteção das aquarelas, obras especialmente frágeis.
 
Em seguida, atravessamos o pátio do castelo e fomos, no lado oposto, à Catedral de São Vito – grandiosa, muito bela, estilo gótico, com um grande aparato de segurança.   



Apreciamos grandes esculturas, túmulos de mármore, vitrais maravilhosos, um altar todo de prata maciça, gradis trabalhados com detalhes revestidos de ouro, um órgão imenso. Por medida de segurança as áreas destinadas à oração são isoladas e a fila para ver a relíquia do Santo é submetida a severa vigilância. 
Ainda que encantada com a beleza incontestável, mas impedida de sentar nos bancos, não gostei da forma de proteção ao patrimônio que dificulta a expressão da fé e desestimula a oração. Foi uma visita fria, não me senti numa igreja como nas outras que visitei. No entanto valeu a pena, pela beleza e riqueza do ambiente - e, na verdade, não deixei de fazer minhas preces e lembrar da família e dos amigos.
 Um chocolate quente no terraço do Starbruks e a linda vista da cidade nos deram o descanso necessário para reunir forças para nova etapa da visita. A propósito do Starbruk do castelo, não posso deixar de registrar o seguinte: escolhemos ficar no terraço, com acesso diretamente da rua, poucos degraus acima do nível do chão. A parte interna ficava um andar abaixo. (Uma pequena explicação: de um lado o terraço fica pouco acima do nível da rua. Do outro lado, vejam na foto: é altíssimo. Significa que são muitos andares por baixo). Na abertura da escada que leva aos andares inferiores, havia uma tabuleta com uma seta que apontava para baixo: TOILETTE(assim mesmo, em francês, uma palavra universal). Oba! Era o que procurávamos. Seguindo a seta, começamos uma descida que a cada lance nos surpreendia com mais um lance. Assim descemos cinco níveis! Onde já se viu coisa assim? E ao chegar lá em baixo, ficamos sabendo que para entrar no toalete era preciso digitar a senha do bilhete de caixa que ficara com os rapazes, na mesa! Felizmente, uma mocinha que saía, gentilmente segurou a porta e nos deu entrada. Que experiência! Tenho certeza de que não havia sequer um aviso visível sobre a exigência de senha para o toalete, em qualquer idioma deste mundo!
Carlos, Leda, Ilka e Eliana
Quando deixamos o café, passamos pelo pátio externo do palácio do governo, onde naquele momento se fazia a troca da guarda, uma bela cerimônia militar, acompanhada de música tocada por instrumentistas posicionados nas janelas e sacadas do castelo – ao estilo do que vemos na Vesperata de Diamantina, MG. (Com certeza eles copiaram de nós...) Os guardas que marcham no pátio em evoluções sincronizadas, muito bem uniformizados, são modelo de disciplina e coordenação de movimentos. São homens muito bonitos e esbeltos, na maioria, mas vi alguns baixinhos e até um gorducho – que não atrapalham a harmonia do conjunto mas contradizem a fama transmitida no boca a boca dos que turisteiam por aquelas plagas...
Já na rua, paramos um pouco para ouvir um conjunto de cordas que tocava lindas melodias. Bom arremate para um belo passeio. 
Caminho de volta: Bonde 22 ; Metrô estação Muste (linha verde); estação Museum (linha vermelha); estação Vysehrad; Hotel Corinthia.
Chegamos ao Hotel no meio da tarde, para um bom descanso, pois à noite haveria teatro.
Noite: Encontrei Ruth, Ary e Márcia, Paulo e Eliana no saguão do hotel e saímos de Metrõ em direção à cidade velha. O teatrinho é pequeno e tem uma cafeteria na entrada. Enquanto tomamos um café, curiosos por conhecer esse tipo de encenação, que para mim pelo menos era novidade, estávamos ansiosos pelo início da sessão. Vimos um espetáculo diferente, em que o jogo de luzes e sombras nos envolve num mundo de fantasia e ilusão de ótica. Muito interessante, apesar da ingenuidade dos temas. A primeira parte é mais infantil e a segunda, com certa permissividade forçada, tenta sugerir humor adulto sem muito sucesso. 
Teatro Negro de Praga - imagem da Internet
O Teatro Negro (em tcheco: černé divadlo) é um tipo de representação cênica caracterizada pelo uso do cenário na escuridão com jogo de luz e sombras. Apesar do formato estar disseminado no mundo todo, e ter supostamente sua origem no extremo oriente, é predominante em Praga, República Tcheca, onde é considerado uma autêntica manifestação da cultura local e existem cerca de nove companhias em atividade. O formato se distingue de outros tipos de representação teatral, mas o conteúdo se aproxima um pouco dos espetáculos de circo. Utilizam-se cortinas pretas, um cenário de cor escura, lanternas de luz negra, trajes fosforescentes, danças, representações mímicas e acrobacias. Uma mistura de atores com bonecos, figuras e objetos que se movem manipulados no escuro.
Uma nova linguagem e cores, com o uso das luzes ultravioleta surgiu em Praga durante o regime comunista como forma de expressar opiniões e ideias, especialmente em um contexto totalitário em que era necessário usar a criatividade contra a repressão. O palco escuro e o espetáculo mudo seriam referências ao regime.
Voltamos de taxi para uma ceia leve de chá com queijos no bar do hotel.
No dia seguinte, vamos fazer um passeio distante – vamos conhecer Cesky Krumlov, uma cidade patrimônio da humanidade. 
(os trechos em negrito são extraídos e adaptados do Google)