terça-feira, 30 de setembro de 2014

Varsóvia, música e lembranças de guerra

19 de maio de 2014
Um dia é pouco para conhecer Varsóvia
Uma cidade variada, carregada de passado, impulsionada pela vontade férrea de um povo que acredita no valor de seu patrimônio histórico e artístico. As ruas são limpas e bem cuidadas. O único detrito que se lança ao chão, sem cerimônia, é a guimba de cigarros. Estranho... em todas as ruas, pedacinhos de cigarro não são notados à primeira vista, mas, prestando atenção, lá estão eles, jogados nos gramados e nas calçadas. 
Fico sempre atenta ao transporte coletivo das cidades que visito. Os ônibus urbanos de Varsóvia são grandes e trafegam silenciosamente nas avenidas em sua faixa própria. 
Uma linda cidade, com prédios antigos - ainda que não sejam todos originais, pois muitos deles foram quase inteiramente reconstruídos - que convivem com outros de arrojada arquitetura contemporânea. Este, aqui ao lado, todo espelhado, localiza-se no final de uma avenida ampla e forma um portal de acesso à praça da biblioteca. Reflete os prédios tradicionais ao seu redor, criando uma notável ilusão de ótica. 
Mas comecemos do início: na véspera, quando chegamos ao Raddisson Hotel, no centro de Varsóvia, lá nos esperava o guia, um espanhol chamado Antonio, que nos acompanharia na primeira metade da excursão. Ele nos avisou que viria chuva e muito frio, melhor seria estar sempre bem agasalhados. O clima local não confirmou esse prognóstico e tivemos belos dias de sol e calor moderado. Salvo essa falha desculpável, pois nem os serviços meteorológicos entendem muito bem as variações do tempo, tivemos uma boa assistência da SATO, a empresa turística que nos levaria pelas estradas dos países bálticos. 
Ônibus grande e confortável, com lugar para mais de quarenta passageiros, acolheu-nos folgadamente - os primeiros doze participantes da primeira etapa. Éramos oito brasileiros, (sendo quatro mineiros -nós - e dois casais de paulistas) e um grupo de quatro amigas peruanas que têm o costume de, uma vez por ano, deixar suas famílias para viajar juntas pelo mundo. Duas moram em Lima, uma em Miami e outra em Genebra, como tradutora de língua espanhola.
Na manhã do dia 19.05, o ônibus estacionou na porta do Hotel às 9 horas para nos levar a um “tour” de reconhecimento da bela capital da Polônia. Quando andamos de ônibus pela cidade parece que a estamos conhecendo, mas, depois, se saímos a pé, verificamos que a visão geral pouco adiantou para nos localizar e nos fazer compreender a verdadeira dimensão da cidade. Mas foi um belo passeio, com paradas estratégicas em pontos mais representativos do local. No entanto, a parte mais bonita e rica deve ser feita a pé, pisando as pedras centenárias de ruas e vielas cheias de história e emoção.
A primeira parada do ônibus foi nas proximidades do Parque Lazienki, uma maravilha verde plantada à margem de uma avenida larga. Além da beleza natural de jardins bens cuidados e árvores frondosas, o ponto principal do parque é o monumento a Chopin, o músico polonês cultuado como verdadeiro herói nacional. Uma bela escultura junto ao gramado e ao lago central mostra a reverência pela arte romântica daquele que fez sucesso em Paris mas nunca se esqueceu da terra natal, lembrada nos acordes vigorosos de várias Polonaises, peças musicais admiradas no mundo inteiro, rivalizando em popularidade com seus suaves prelúdios, sonatas, valsas, noturnos, estudos e improvisos de melodiosa sonoridade e harmonia. 

Para nosso encantamento, ao acionar um dispositivo digital num dos bancos do jardim, pudemos ouvir, numa gravação de alta qualidade, algumas das mais famosas peças musicais desse compositor. Para mim, especialmente, foi um momento de doces recordações, pois desde muito cedo sou admiradora de Chopin, não só por causa das músicas de minhas remotas aulas de piano, mas pela recordação de um dos primeiros filmes de longa-metragem que assisti quando criança, “À noite sonhamos”, com Cornel Wilde no papel de Frédéric Chopin e Merle Oberon, representando a sedutora novelista francesa George Sand. (pseudônimo de Amandine Dupin)
Depois, de ônibus, chegamos  ás proximidades do Gueto de Varsóvia, onde fica um monumento à resistência dos judeus às atrocidades nazistas. Fica no centro de uma praça, na qual são realizados diversos eventos carregados de emoção e reverência. Vimos também o monumento a Copérnico na rua Krakowskie Przedmiescle (que idioma!) e passamos perto da entrada do Jardim Botânico.

Em seguida chegamos à Praça do Mercado, centro da Cidade Antiga, cercada de belos edifícios medievais, onde, vendo as barraquinhas de toldo branco, reconhecemos o local que visitamos na véspera. Dali fomos a pé ao mirador que se debruça sobre o rio Vístula, a “praia” de Varsóvia, em nada semelhante ao que aqui se chama de praia: uma larga esplanada na margem do rio, coberta de relva rasteira, onde deve ser agradável fazer um piquenique dominical. Mas era segunda-feira, não havia ninguém curtindo a mansidão das águas nem o bucolismo da paisagem.
 O ônibus nos recolheu ali e levou-nos até à Praça do Castelo, com "pausa hidráulica" na estação do metrô e muitas fotos. A praça é ampla e bonita. Cena comum nas cidades europeias, muitas crianças, em fila, acompanhadas de professoras, entram e saem de prédios antigos que abrigam museus e bibliotecas. O Palácio Real, um prédio vermelho, destruído pela guerra, como quase todos os edifícios antigos desta cidade, foi quase totalmente reconstruído e atualmente é um museu. 
Daí em diante, o caminho se faz somente a pé. 
Passamos pelo monumento à Sereia, armada de escudo e espada, para defender a Polônia de invasores, segundo reza a lenda. A sereia é um dos símbolos de Varsóvia e não existe apenas esta que aparece na foto ao lado. Há pelo menos mais uma. A diferença entre elas está na cauda: uma tem cauda de peixe, como convém às sereias, outra tem duas caudas de serpente, enroscadas como se fosse um dragão. (A Wikipedia conta muitas histórias a respeito).  Neste ponto a excursão se dispersa, começa a tarde livre. Nosso grupo de quatro vai se aventurar a caminhar por si só, capitaneado por Tucha de mapa em punho à cata de atrações turísticas indicadas em um livrinho que Elayse consultara à noite, no hotel.

Passando sob os arcos da fortaleza medieval de tijolos cor de terra, 90% destruído na guerra e  de reconstrução recente, chegamos a uma rua tranquila, em que convivem igrejas, bares com mesas ao ar livre, vendas de lembranças típicas e uma loja de porcelanas de variados coloridos e desenhos. Pausa para descanso e uma coca-cola gelada, para ter certeza de estarmos no século XXI. Outro indicativo dos tempos modernos: furtaram a carteira com alguns euros e documentos de uma das companheiras peruanas. Nada é perfeito. 
Junto ao muro do Centro Histórico, à sombra de uma árvore, à custa de muito procurar, encontramos uma pequena estátua que comove: trata-se de um menino vestido de soldado, o pequeno rebelde de Varsóvia. Com capacete muito acima de seu número e fuzil próprio de soldados adultos, ele simboliza as crianças que acompanharam seus pais no Levante de Varsóvia contra os algozes alemães no verão de 1944, antecipando ali a derrocada do poderio nazista e prenunciando o fim da Segunda Guerra Mundial. 

Em seguida, percorrendo uma avenida larga, onde fica o Hotel Ibis, (numa praça que denominada Umschlagplatz - fácil de ler, não?), deparamos com uma surpresa impactante: um monumento lúgubre, escuro, com a aparência de escombros de um terrível incêndio. Era um vagão de estrada de ferro, coberto de dezenas de cruzes amontoadas, tisnadas como lenha queimada. Simboliza os vagões nos quais os prisioneiros judeus eram confinados e levados até os campos de concentração, condenados à morte da maneira mais infame, sem culpa formalizada nem julgamento. Nos dormentes que cobrem o canteiro central da avenida, estão gravados os nomes das vítimas que a cidade não pode e não quer esquecer. Emocionante e triste. 
Em contrapartida foi muito agradável deparar com a simplicidade da biblioteca que funciona em um prédio tradicional onde anteriormente teria sido o Palácio da Justiça, este transferido para uma construção moderna do outro lado da praça. O inusitado, no gramado fronteiro, eram os cavalos alados em metal pintado de cores fortes, uma decoração ingênua e lúdica que talvez seja alusiva a figuras da literatura polonesa e muito apropriada para uma biblioteca, salvo melhor juízo!
Enfim retornamos à Praça do Mercado, para saborear um almoço de filé com fritas, debaixo de um toldo ao ar livre.  Foi então que aproveitamos para fotografar aquele restaurante onde jantamos na véspera, aquela foto do post anterior- lembram? Depois fomos tratar do vil metal, ou seja, fazer o câmbio em que troquei 50 euros por 160$ lituanos, em preparação ao nosso destino do dia seguinte. Já fatigados de tanta andança, rumamos ao hotel para descansar, pois o dia aqui é longo e temos concerto  de piano à noite.

O ônibus da excursão nos levou às 20 horas, com o sol ainda bem alto, ao auditório para ouvir músicas de Chopin, lindamente executadas por uma pianista muito jovem de mãos abençoadas. Um cálice de espumante no intervalo e a compra de um CD que merece ser ouvido, sugerem a reflexão de que a Polônia sabe mostrar aos turistas e valorizar a arte, a história e o artista da terra. Durante esse evento, nosso grupo foi acrescido de duas jovens paranaenses, irmãs, ambas casadas e residentes em Curitiba, recém chegadas de Paris onde estiveram por uma semana. Amanhã, a caminho da Lituânia, seremos 14 na excursão.
O dia de Varsóvia se encerrou com o jantar num restaurante de decoração rural, próximo ao hotel, e minha feliz escolha foi cod fish com risoto de aspargos. Não é que eu seja boa em culinária, mas sei apreciar um bom prato. Valeu!
Não se pode dizer que conhecemos Varsóvia, mas vimos o suficiente para recordar, com respeito e admiração, essa cidade e seu povo sofrido e corajoso. 






segunda-feira, 14 de julho de 2014

De BH a Varsóvia – Conexão Amsterdam


Primeiras notas da viagem. 
17 e 18 de maio - 2014. 


Desde fevereiro nos preparamos para essa viagem. Documentos, contratos com agência, seguro, mapas e informações do Google, câmbio e malas prontas! Tudo em ordem, até mesmo o passaporte renovado. Movida pela curiosidade de conhecer mais um naco da antiga Cortina de Ferro no leste da Europa, lá vou eu!
O roteiro, cuidadosamente preparado, nos levaria da Polônia à Rússia, via Lituânia, Letônia, Estônia e Finlândia. Todos esses são países bálticos, ou seja, banhados pelo Mar Báltico, como se vê no mapa. 
Tudo começou com um convite da minha prima Elayse para uma viagem planejada por sua filha Tucha e o genro Gui. Ela não sabia, mas eu digo e repito que, se pessoas queridas me convidam, eu aceito. E nunca me arrependo, pois  tenho tido muita sorte com as companhias e os destinos das viagens. E neste caso, não foi diferente.
Moramos no mesmo bairro, portanto pudemos sair juntos em um só carro que apanhou cada um em sua casa: uma Doblô com espaço suficiente para 4 passageiros e as bagagens. Era um sábado de manhã, bem cedo. Confins, Guarulhos, Polícia Federal, e - após um dia inteiro no aeroporto de São Paulo - lá fomos nós pela KLM, para chegar à Europa por Amsterdam. Ótimos filmes a bordo, um jantar delicioso que me reconciliou com o cardápio de voos na classe turística, sono entrecortado como sempre e um café da manhã incrível. Viva a aviação comercial holandesa!
Os relógios do aeroporto, na chegada, marcavam cinco horas a mais do que o meu. Cinco fusos vencidos em uma noite. 
Foi pouco o tempo de permanência no aeroporto de Amsterdam para podermos dizer que estávamos na Holanda, mas todas aquelas prateleiras de free shop com seus bonequinhos típicos e tulipas em profusão não nos deixavam duvidar. Tulipas são lindas e multicoloridas mas assim, expostas nas lojas, parecem artificiais – tão certinhas e iguais! Um dia vou voltar  para vê-las plantadas na terra, ao sol e ao vento, quem sabe mais vivas...
Dali seguimos para Varsóvia, dentro do mesmo fuso e lá chegamos à tarde, domingo, dia 18.  Estamos na Polônia, cenário e protagonista de tantas histórias de dor, heroísmos e glórias. Varsóvia, sua capital, localiza-se no vale do rio Vístula e é sede episcopal tanto da Igreja Católica como da Igreja Ortodoxa.
Após pequeno descanso no Hotel, saímos para uma volta de reconhecimento. Andamos pelas ruas da cidade antiga e entramos na Catedral de São João, do século XIV. Simples e bonita.  As Igrejas, muito numerosas, estavam movimentadas pelas missas de domingo e as ruas animadas, pois neste lado do mundo, qualquer resquício de sol é festejado e aproveitado ao máximo. Ninguém quer ficar fechado entre quatro paredes quando existem praças e bares ao ar livre, à luz do dia que se faz longo neste fim de primavera.

Quando a noite caiu lentamente, perto das 22 horas, entramos num restaurante muito simpático para jantar. “U Fukiera”, indicado pela guia que nos buscara no aeroporto, é acolhedor, mesa bem posta e requintada, atendimento um pouco demorado, porém gentil, comida e vinho excelentes. A sopa cremosa e rosada (de beterraba!) é linda e de sabor inacreditável. Muitas bugigangas e flores cuidadosamente dispostas compõem o ambiente elegante de uma decoração bastante original.  Começamos com o pé direito. Na tarde seguinte até voltamos ao local para fotografar, à luz do dia, a fachada - bem espalhafatosa, como se vê -   desse restaurante realmente especial. Só com ele já gastei quase todo o meu repertório de adjetivos!!!
Na volta de táxi ao hotel,  foi incrível o papo do Gui com o motorista. Um não falava nada de inglês e o outro nem uma palavra de polonês, mas conversaram o tempo todo! É bom nem querer saber se eles se entendiam, mas conseguiram impressionar, ah, com certeza! 

domingo, 12 de janeiro de 2014

PRAGA - Prahe bela! 3



03.09.2013 – Alargando horizontes
Mapa da República Tcheca: ČeskýKrumlov ao sul, perto da fronteira com a Áustria.
O café da manhã do Hotel Corinthia é simplesmente sensacional. Além do ambiente arejado e amplo, com decoração primorosa, a variedade e a fartura de alimentos completam a sensação de conforto que trazemos dos quartos e das noites bem dormidas.

O projeto do dia era alargar os horizontes de nossa experiência tcheca, para além dos limites de Praga, confirmando a suspeita de que tamanha beleza não seria a única do país.

Pois bem, estômagos bem forrados e animados, tomamos a van que nos levaria à região denominada Boêmia do Sul, na República Tcheca, para visitar Český Krumlov, uma cidade histórica considerada pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade.

Antiga capital de uma região então denominada Rosenberg, no auge de seu prestígio, entre os anos de 1300 e 1600, antes do Império Austro-Húngaro, Cesky Krumlov é citada em documentos desde 1253 e, com mais de 300 edifícios históricos, é uma verdadeira viagem no tempo, pois mantém a atmosfera original de uma cidade medieval.
A cidade é muito simples: cercados pelo rio Moldava, estão o casario e a igreja com sua torre em destaque. O interior do castelo só é aberto para visitação nos meses de verão, de abril a outubro, exceto às segundas-feiras. Só são admitidas visitas guiadas e em horários determinados.

A construção da cidade e seu castelo começou no século XIII. A população da cidade em 2005 era de 13.942 habitantes, e a área de cerca de 22 km².


 
Vindo de Praga, no oeste do país até o destino na Boêmia do Sul, percorre-se uns 190 km.

Descemos da van fora dos muros da cidade e percorremos a pé o restante todo da visita, como de costume nas cidades medievais.

Logo na entrada, apresenta-se para nosso deslumbramento o castelo em todo o seu volume e graça, sem que nossas cabeças modernas avaliassem o que seria percorrer aquela maravilha sem fazer uso de elevadores e escadas rolantes.

O rio serpenteia por meio das ruas com suas pontes e curvas, desenhando uma paisagem urbana de beleza encantadora.  As casas apresentam traços de sua história, para quem entende essa linguagem, narrada pela arquitetura medieval, gótica, renascentista e barroca.

O adjetivo 'Český' significa boêmio ou simplesmente tcheco o que, na lingua deles, vale a mesma coisa. O nome Krumlov é derivado da palavra alemã Krumme, que pode ser traduzida como “prado torto”, devido à topografia da cidade, debruçada sobre uma curva acentuada do Rio Moldava (Vtlava). Esse rio é o mesmo que atravessa Praga, mas em Český Krumlov, próximo à sua nascente, ele ainda é pequenino, quase um riacho.


Entrando nas ruas e praças, vemos coisas muito interessantes, tais como a decoração peculiar na pintura das casas e um ar acolhedor nos pequenos restaurantes e bares com mesas ao ar livre ou debaixo de toldos coloridos. Sinal da origem da cidade são as pinturas e pequenos relevos em formato de rosa de cinco pétalas espalhados pelas casas e construções antigas, lembrança da poderosa família Rosenberg a mais rica e influente do país, cujo nome significa “montanha de rosas”.
Visitamos a linda igreja gótica de São Vito, santo muito cultuado neste país, localizada no alto de uma ladeira que exigiu algum esforço para subir. O interior e o órgão mantêm a tradição de beleza e solenidade de outras da mesma idade. As fotos do interior da igreja são proibidas, motivo pelo qual, distraidamente ignorando a proibição, fui duramente repreendida por um zeloso guardião do templo. Mas a foto aí está, testemunha de minha transgressão. Vejam a plaquinha de aviso, tão pequenina!
 Da mureta de um pátio ajardinado tem-se uma visão linda da cidade mais embaixo.  Mas a cidade em geral é pouco acidentada. No entanto, o calçamento é mais rústico do que o da capital e, em alguns lugares requisita atenção maior ao pisar.


A escolha do restaurante, em local de difícil acesso, aparência lúgubre e pouca visibilidade da rua não agradou a todos – apesar de esse tipo de casa ser considerado um dos atrativos da cidade, por sua semelhança com as velhas tavernas de outros tempos. A comida estava muito gostosa. Meus companheiros escolheram conhecer uma iguaria cujo atrativo era a carne de faisão. Para mim, que não a provei, tinha a aparência de um galeto bem passado. Minha escolha, meio na sorte, por não ter muita certeza sobre o significado das palavras no cardápio, foi uma deliciosa carne de porco defumada, bem macia e rosada, com batatas ao forno.
Apesar de dificuldade de acesso na porta e das escadas meio tortas, fiquei numa mesa privilegiada num avarandado sobre o leito do rio, mas não havia lugar para todos nessa área. Foi uma pena não termos nos acomodado todos juntos. Eu fiquei com a turma que escolheu cumprir a programação de visitar o castelo, em mesa separada dos demais. E essa visita levou mais tempo do que o previsto, pois a guia não se informou com antecedência sobre o horário das visitas, o que resultou em mais tempo gasto em espera para entrar no castelo e, com isso,  aumentou também o tempo ocioso dos que nos aguardavam.
O Google nos mostra que esse tempo usado numa espera enfadonha, com alguma orientação turística que realmente faltou, poderia ter sido bem aproveitado: a cidade tem inúmeras galerias e lojas de arte e artesanato. Abriga também alguns bons museus, como o de marionetes, o de tortura e um com réplicas de personagens famosos em cera. O Museu Regional, outra preciosidade do lugar, tem uma coleção de cerca de 40 mil objetos antigos e achados arqueológicos da região da Boêmia.


Fora esse dissabor, a visita ao castelo que fiz em companhia de Márcia e dos senhores Paulo, Carlos e Ary, foi uma maravilha, de uma riqueza sem preço: o mobiliário de época e a disposição dos ambientes que informam sobre usos e costumes – mais simples do que na sede do Império que conhecemos em Viena - o modo de arrumar uma mesa de jantar, as peças de metal, as louças e os cristais, as obras de arte e tapeçarias. No último andar, uma bela galeria com a imagem de Santo Antônio, de onde se descortina uma paisagem panorâmica da cidade.

Esse castelo foi construído no século XIII e é o segundo maior do país. Originalmente gótico, ganhou feições renascentistas no século XVI e, mais tarde, barrocas, no século XVII, já sob domínio da família Eggenberg, que construiu o teatro barroco, hoje o mais antigo da Europa, com um maquinário para mudança de cenários extremamente sofisticado para a época em que foi idealizado.

 Já cansadas e com pressa de nos unirmos ao restante do grupo, Márcia e eu olhamos apenas  a entrada do famoso teatro que dizem estar preservado exatamente como foi construído originalmente. Mais rápidos e lépidos do que esta tia, os rapazes foram lá dentro, enquanto Márcia me acudia na dificuldade de descer as rampas e degraus da saída.

Um aspecto interessante do castelo é a presença de ursos de verdade no fosso sob a ponte da entrada, uma referência aos tempos em que esses animais eram os ferozes guardiões da morada de seus senhores. Hoje, pacificamente, ficam expostos aos olhares do público e ali mesmo se alimentam de legumes e frutas.


Reunidos de novo, na van que nos esperava no estacionamento, tomamos a estrada em direção a Praga e, após uma parada num Mac Donald na rodovia, chegamos à noite ao hotel, onde minha amiga recente, a chaleira elétrica, me esperava para uma chazinho reparador... 
 Cheguei encantada, pois o local que visitamos, com toda sua beleza e conteúdo histórico, tinha tudo para ser o sucesso previsto e desejado pelos meus queridos sobrinhos, organizadores de nossa  incursão pelas paisagens, fatos e encantos desse mundo tão antigo e tão novo para mim.




04 e 05.09.2013 – Últimos dias


Nos dois últimos dias, depois do alargamento de horizontes pelo sul da República Tcheca, os caminhos se estreitaram, entramos no mundo das compras em ambientes fechados, em vez de catedrais visitamos os templos do consumismo, as grandes lojas de departamento, subimos e descemos escadas rolantes. Foi bom ver que as cidades históricas bem conservadas como Praga podem ter uma vida moderna e confortável, com todos os benefícios da atualidade sem perder seu encanto, sem deixar perder-se a memória dos tempos, dos feitos, das lutas e das conquistas. 
No shopping Paladium passamos muitas horas do dia 04, vasculhando todo o estoque de moda, maquiagem, aparelhos de imagem e som, utilidades domésticas e até artigos para cachorros. Fizemos poucas compras, pois os preços em coroa tcheca não permitiam as extravagâncias desejadas.
Mas entrar e sair de lojas, pegar, avaliar e largar objetos, mesmo sem finalizar uma compra é um dos prazeres que as mulheres têm, principalmente em viagens e que raramente os homens parecem entender muito bem. Mas, justiça seja feita, o Ary é um ótimo comparsa de atividades consumistas. Eu prefiro dar palpites sobre roupas que os outros experimentam,  sugerir compras alheias e deliciar-me em comprar pequenas lembranças, coisinhas típicas que não façam muito volume nas malas da volta. No Paladium, Ruth, Flora e eu fomos flagradas pela Márcia enquanto tomamos uma suave massagem relaxante em máquinas públicas no meio do shopping. 

Para o almoço, saímos do shopping e andamos a pé uns duzentos metros até o Café do Hotel Imperial, indicação infalível da Flora, conhecedora dos ambientes mais refinados de Praga. Paulo e Eliana tinham se desgarrado do grupo para ir a outro lugar, à procura de aparelhos eletrônicos.
Salão do Café Imperial
O salão muito chique do Café Imperial foi o cenário de um almoço de alto nível. Minha escolha, como sempre muito feliz, foi um canelone de caranguejo com molho de camarão. Devo lhes afiançar que o molho era mesmo de camarão,
de sabor inconfundível que eu adoro, mas para minha decepção, era só mesmo molho, ao pé da letra, nem um pedacinho do crustáceo. Estou acostumada com molho de camarão que tem camarões, quanto maiores melhor...

Um passeio ao ar livre ao entardecer levou-nos às ruas do centro histórico, onde sempre voltávamos, como se tivéssemos medo de ir embora sem aproveitar bastante a beleza do lugar. Sentadas a uma mesinha de bar, eu e Márcia batemos longos papos, sobre terras e gentes, falamos até de política! 

No dia seguinte - dia 05.09.2013  - era aniversário do Ary, motivo de muitos festejos e brincadeiras. Saímos para compras em lojas de rua, onde procurei os souvenirs de cristal que não se encontram nos shoppings.  Percorremos praticamente todas as lojas da avenida mais larga da cidade, desde a estação Museum até o limite do centro histórico.

A comemoração do Ary foi durante um almoço onde todos nos encontramos, num restaurante italiano em outro shopping do qual não guardei o nome, onde passamos parte da tarde. Foi um belo encerramento, pois depois disso, voltamos ao hotel para arrumar as malas, a fim de sair à uma hora da madrugada, para o aeroporto, iniciando nossa viagem de volta.  

Confesso que me impressionei muito com a qualidade de vida nesses países da Europa tão desconhecidos para mim. Fico me indagando sobre a falácia da classificação dos países mais ricos do mundo, lista da qual o Brasil faz parte entre os primeiros - pois não chegou, há pouco tempo, em 2012 ao posto de sexta  economia do mundo, disputando a posição com o poderoso Reino Unido? Como se explica que esses europeus do centro-leste nem apareçam nessa lista? Sei que  deve haver aí uma metodologia de cálculo, considerando os resultados da economia em termos absolutos, que não é para eu entender mesmo. Mas como o Brasil pode se vangloriar de sua riqueza se ela - a riqueza - não dá a seu povo nem a metade do conforto de que gozam os "pobretões" da Europa que nem têm ainda poder para ingressar no mundo do euro? Socorro, alguém pode me explicar?

E a educação, o respeito, a limpeza, a mobilidade urbana? 
 








Há preços diferentes do transporte coletivo conforme a idade do cidadão: até 60 anos paga-se um preço, de 60 a 70 a metade e acima de 70 a passagem é de graça. Nem por isto os jovens se acham com mais direito aos assentos. Os ônibus e bondes elétricos, assim como o metrô, são grandes e confortáveis. Nem uma vez entramos em um carro desses eventualmente lotado, sem que os mais jovens se levantassem para nos ceder seu lugar. 
Mas em vez de me perder em comparações desvantajosas em relação ao meu país, prefiro fixar meu pensamento nos momentos agradáveis que passamos em completa harmonia, cercados de gentileza, de carinho e de generosidade. 


Aqui termina meu relato, porque tempo de espera em aeroporto, atrasos de voo, dificuldade de conexão são coisas comuns que não merecem detalhamento. O fato é que, depois que me separei da turma em Lisboa, no dia 06.09 de manhã,  pensando em chegar em casa no mesmo dia, em voo direto a BH, só entrei em casa no dia seguinte, tendo passado um pedaço de noite em um hotel de Guarulhos.  Mas, em pleno feriado da Pátria, fiquei feliz de ter chegado - nada como a casa da gente para voltar - e pronta para outra aventura que me aparecer pela frente. 

 

Minha nova amiga Ilka, 
minha concunhada e prima Flora e 
essa família que gira amorosamente em torno de Ruth: 
Paulo e Eliana, 
Mônica, 
Carlos, 
meus sobrinhos Ary e Márcia, 
MUITO OBRIGADA!
Deus proteja sempre essa turma  abençoada, que, no meio de uma comemoração de família, me acolheu e me proporcionou o prazer de uma convivência bem humorada e momentos ora emocionantes ora divertidos, numa viagem que foi toda maravilhosa.
Nota: Como sempre, os trechos em negrito são adaptados do Google.