quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Vilnius, diversidade e fé.

20 e 21.05.2014 – Vilnius, a mais religiosa capital da região do Báltico

A bela Vilnius moderna abriga patrimônio cultural da
humanidade reconhecido pela UNESCO
Saímos de Varsóvia após o café da manhã, rumo nordeste, em direção à vizinha Lituânia. Ainda temos longo percurso em terras polonesas. Bom lembrar que estamos na Europa, por isto não é preciso se preocupar com as estradas, sempre bem sinalizadas, pavimento impecável. Civilização de muitos séculos. Os doze passageiros se encontram na porta do hotel e - lá vamos nós. A paisagem logo se torna repetitiva, a mesma linha reta cercada de pinheiros, quilômetros a fio. Dentro do ônibus a alegria de partilhar uma aventura, novas pessoas que passam a fazer parte de nossas vidas.



Uma parada para um café na localidade de Lomza, depois mais estrada e um almoço nas proximidades da cidade de Augustow - no bar e restaurante Abro, bem situado à beira da estrada, comida gostosa, ambiente agradável. Do salão pode-se apreciar, a perder de vista, uma plantação de canola em floração, lindo campo de vegetação rasteira em tons de verde e flores douradas.
Ao pagar a refeição, aproveito para torrar, em barras de chocolate, todo o restante de “zlotis”, até o último tostão. Na véspera o guia nos prevenira que a moeda polonesa não seria aceita na vizinha Lituânia, por isto já saímos de Varsóvia com o mínimo estimado para os gastos de viagem em território polonês. Agora é hora de liquidar com essa reserva. (O zloty que significa "dourado", "áureo" ou "de ouro" é a unidade da moeda polonesa)
Depois do almoço, mais um trecho, já em território lituano e chegamos a Vilnius, também chamada Vilne, Vilna ou Wilno, e mais uma variedade de nomes, de acordo com os diferentes idiomas de sua população multicultural e a vizinhança de países com línguas que se fundem e se multiplicam. Vilnius se localiza na confluência dos rios Neris e Vilna - este último atravessa a cidade e lhe empresta o nome.

Antigamente, quando era apenas um pequeno ducado, a Lituânia tinha sua capital bem no centro do país, mas com o passar dos séculos, houve muitas mudanças na composição de seu território. Vilnius se localiza a apenas 30 km da fronteira com a Bielorrússia do lado oposto ao litoral do Mar Báltico.
Vista da praça a partir da portaria do Hotel
Ao longo de sua existência conturbada, situação comum aos países da região, a Lituânia passou por diferentes tipos de dominação mas, na sua história mais recente, não se sabe qual a pior, se a nazista ou a soviética. Segundo a moça loura, linda e simpática que nos serviu de guia turística local, a sofrida conquista da liberdade e o aprendizado da democracia faz o povo lituano muito cioso de sua língua, proibida durante a dominação comunista. A língua lituana é tida como o principal símbolo do orgulho de um povo que faz questão de se posicionar perante o mundo como uma nação livre e autônoma. O mesmo ocorria com a moeda local, denominada Litas, motivo pelo qual, durante nossa permanência, foi possível perceber uma forte resistência à adoção do Euro, apesar do interesse em integrar o mercado comum europeu. (Mesmo assim, a moeda lituana foi substituída pelo Euro em 1º de janeiro de 2015, à taxa de 3,45280 LTL por 1 euro). 
A primeira impressão, logo ao descer do ônibus, é de deslumbramento pela luminosidade do sol da tarde, que tinge de róseo dourado as fachadas dos prédios de elaborada arquitetura ao redor da praça onde fica nosso hotel, um dos inúmeros Radisson existentes no mundo, instalado em um prédio bem antigo com adaptações contemporâneas. Além de confortável e elegante, seu principal atrativo é a localização numa praça ampla, com várias opções de comércio e gastronomia. Joias, bijuterias, tecidos e adornos em geral. Muito linho e âmbar, produtos típicos da região báltica.
Depois de acomodada nossa bagagem, saímos a pé para explorar o ambiente próximo e completar o dia com um jantar em plena área comercial a poucos quarteirões do Hotel. Não posso me furtar de registrar aqui a elegância da prima Tucha, com sua nova aquisição, um chale tecido em malha de legítimo linho lituano, de caimento impecável.
Prefeitura de Vilnius
A excursão da manhã do dia seguinte, (21 de maio) nos coloca diante de vários ângulos da arquitetura da cidade, cuja opulência de formas expressa os valores desse povo multicultural, com relevância para a religiosidade. A cidade, também é conhecida como a “Jerusalém da Lituânia”, um lugar heterogêneo, que agrupa pessoas de 92 nacionalidades diferentes. Seus pouco mais de 600 mil habitantes representam a quinta parte de toda a população do país.



O Centro Histórico de Vilnius, datado do século XIV, foi considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, em 1994.
Residência do Bairro Judeu

Com seus 53 templos, sendo 36 católicos e os restantes predominantemente judaicos e ortodoxos, não é de se estranhar que tenhamos visto tantas igrejas, capelas e conventos.

Passamos pelo bairro judeu, em que a sobriedade do casario contrasta às vezes com elementos decorativos ingênuos e coloridos. Pudemos ver e apreciar, sem entrar, os prédios da administração local e o Palácio do Governo , cercado de jardins e grades artísticas.
Jardins do Palácio do Governo
Universidade


Mapa da Universidade
A universidade ocupa um conjunto de prédios representados num mapa em relevo, confeccionado em metal, afixado junto a um dos portões de entrada.

As ruas são muito bem cuidadas e ornadas com vasos de flores,quase todos de amores-perfeitos de colorido variado.
Entre as obras sacras, a Catedral – que detém também o título de Basílica, a mais alta categoria de templos católicos – destaca-se por sua imponência e tamanho, assim como pelas estátuas ornamentais de suas galerias externas e o imenso campanário que domina a praça que a cerca.
Uma das pedras do pavimento na praça da Catedral é decorada com a palavra “stebuklas” (milagre) em letras incrustadas em fundo colorido. Diz a lenda que quem quiser realizar um desejo, deve ficar de pé sobre essa pedra, fazer o pedido e rodar 360graus.
Foi exatamente nesse lugar que começou, em 1989, uma corrente humana, a "Corrente Báltica", que se estendeu através da Lituânia, Letônia e Estônia para chamar a atenção do mundo para o sofrimento, comum aos três países, durante a política de anulação de identidade nacional imposta pela União Soviética. No ano seguinte, a Lituânia recuperou o direito de falar sua língua pátria e, em 1991, o país conquistou sua independência. Desejo realizado! Milagre? Stebuklas!
Imagem de São Cassimiro na capela da Catedral
Muitas lendas em torno da vida de santos ilustram a história verdadeira ou imaginária de personagens que se perdem na distância dos tempos de riquíssima tradição oral. Uma das capelas da catedral homenageia São Cassimiro, filho do rei da Polônia que é o padroeiro da Lituânia. Na capela há uma imagem sobre a qual se acredita haver interferência divina ou do próprio santo na obra do artista que a pintou. Há uma outra igreja dedicada a esse santo, cujas torres podem ser avistadas, da calçada de nosso hotel, erguendo-se sobre a silhueta do casario do lado oposto da praça.
Igreja de Santa Ana
Outra igreja muito bonita, toda em tijolos vermelhos e linhas góticas, é a Igreja de Santa Ana. Conta a lenda que sua construção havia sido contratada a um experiente arquiteto, já entrado em anos. Acontece que, enquanto fazia o projeto, sua filha se casou e o genro, também arquiteto, arvorou-se em dar tantos palpites que o ancião, impaciente, acabou por entregar-lhe a empreitada. No entanto, terminada a obra, o templo ficou tão bonito e mereceu tantos elogios que, tomado de ciúmes, o velho chamou o genro para apreciar a vista do alto de uma das torres e, lá em cima, deu um empurrão no jovem, jogando-o ao chão e provocando sua morte instantânea.

Diante dessa igreja há uma escola de arte e, por obra de seus alunos, as árvores em frente têm seus troncos deliciosamente “vestidos” com retalhos coloridos de tecidos, malhas e crochê. Foi aí também que registrei uma das cenas que mais me encantam em todos os países da Europa que tenho visitado: as crianças, desde pequeninas, em grupos acompanhados de suas jovens professoras, atravessando o jardim para visitar o parque, brincar ao ar livre, conhecer monumentos e obras de arte.


Igreja de São Pedro e São Paulo


Visão geral do interior do templo de São Pedro e São Paulo

A Igreja da Santa Mãe de Deus, com mais de seiscentos anos, é o principal santuário da fé Ortodoxa na Lituânia.


Outro ponto interessante de nossa excursão foi a visita ao Museu do Ambar, que exibe peças de decoração, jóias e objetos de tamanhos, formas e cores diferentes feitos com essa pedra considerada o ouro do Báltico. O colorido do âmbar vai do branco ao negro, passando por vários tons de amarelo e marrom, o que proporciona uma rica variedade de combinações e efeitos. Aí ficamos sabendo que o âmbar é uma substância mineral não cristalizada, de origem vegetal, pois é o resultado da fossilização há milhões de séculos, da resina de uma determinada espécie de pinheiro atualmente em extinção. Há, portanto o risco de escassez dessa riqueza muito apreciada não apenas na área dos adornos em que é mais conhecida, mas também por suas propriedades magnéticas e aplicações em eletricidade.


O passeio matinal termina com o ônibus nos deixando a uns duzentos metros do hotel. Nesse trecho pedestre, passamos sob o único pórtico que resta da muralha medieval que cercava a cidade. Sobre o arco desse pórtico, fica uma igreja bem singular. No momento em que passamos, pudemos ouvir a música de um culto que enche a rua de sons, em plena quarta-feira: suaves cânticos de um coro em contraste com a voz grave e imperiosa do celebrante.

Um sanduíche comido às pressas ali na praça substitui o almoço. Em seguida partimos de ônibus para uma excursão ao Castelo de Trakai, a 30 km de Vilnius, construção medieval terminada no século XIV e restaurada em meados do século XX. Passadiços de madeira levam-nos sobre as águas do lago Galvé até o castelo. O edifício é bem rústico, paredes sem revestimento e escadas de madeira. Pouco mobiliário e muito pouco adorno retratam o estilo de vida dos seus habitantes, contemporâneos da cristianização do norte e leste da Europa, a partir do século XIII.


A paisagem em torno do castelo encanta, por causa dos lagos que o cercam em cujas águas se fazem ver os efeitos de um lindo entardecer.
Sempre a meninada!
Devo confessar que preferia aprofundar mais a visita a Vilnius, fartar-me de Arte e História, conhecer mais sobre os efeitos das lutas e conquistas do povo lituano na convivência de realidades tão heterogêneas, na política, na guerra, na religião. Mas devo reconhecer que, em Trakai, foi um prazer aproveitar a paz e a beleza de uma linda tarde de sol.

Só mesmo estando ali para sentir essa beleza.

Já de volta a Vilnius, ao anoitecer, na claridade teimosa do fim do dia, saímos a pé olhando as opções da vizinhança e escolhemos jantar ao ar livre, num ótimo restaurante, mesas dispostas num pátio interno muito agradável. Nossa noite terminou em perambulações pelas ruas calçadas de pedras, sob as primeiras estrelas do céu que permanecia bem azul, como se vê na foto tirada quando o relógio marcava 10h30 min.
Amanhã deixamos Vilnius em direção à Letônia.