quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Ruas, praças, avenidas...



Acabo de me instalar, feliz da vida, no novo apartamento, nas alturas do décimo primeiro andar. Cheguei com o inverno e assim vou vivendo a bela primavera de Belo Horizonte.
De cada lado do prédio, uma vista que me encanta.
Olhando pela ampla janela da frente, vejo os contornos da Serra do Curral, emoldurando tudo, desde o bairro da Serra até o limite do Belvedere.
 É atrás dessa montanha que nasce a lua cheia, aquela que me recebeu nas primeiras noites que passei aqui, neste novo pouso.
Da sala de jantar, outra janela, de onde se descortina a cidade - o centro de Beagá - um mar de edifícios com o horizonte lá longe, sumindo na bruma seca do fim do inverno. 
 Sentada à minha mesa de trabalho, fico diante de uma das mais eloquentes constatações da passagem do tempo em minha vida: a volumosa massa de prédios modernos que brotaram da terra com o crescimento do bairro Sion.  Nada disso existia quando eu era jovem e via essas ruas serem abertas, as primeiras casas construídas, o bairro ganhar vida própria. Lá, ao fundo, as casinhas do Morro do Papagaio, em alvenaria sem reboco, também muito diferentes dos casebres da favela nos idos de 1950.
 
A marca registrada do bairro são os nomes de suas ruas e praças, misturando países, cidades e estados das Américas, a maior miscelânea. As duas primeiras ruas no mapa, aqui ao norte do bairro Sion, são Canadá e Paraguai, ruas de um só quarteirão, que vão da Rua Cristina (uma cidade mineira), no bairro do Carmo, até a Flórida! Aí começa a República Argentina que atravessa Uruguai, Buenos Aires e Montevidéu, Nova York, Washington, Chicago e La Plata, passa perto da Terra Nova, sem a menor preocupação com a geografia. O mesmo acontece com a Califórnia que começa na Uruguai, passa por essas ruas já citadas, acrescentando as Antilhas, e acaba na Praça Alasca! Santiago liga Chile à República Argentina. Aí também estão Valparaíso, Venezuela, Colômbia, Estados Unidos, Peru, Nicarágua, Assunção, Panamá, Costa Rica, Guianas, Santa Fé, Groelândia. A divisa sul do bairro, confinando com o Belvedere, é traçada pelas ruas Patagônia e Haiti. Existem algumas ruas cujos nomes fogem ao anárquico padrão que orientou a seleção de topônimos americanos para nossas ruas: São João do Paraíso, do sul de Minas, Guaratinga da Bahia e Turibaté que nem o Google sabe o que é – o que fazem esses três nomes em ruas situadas bem no miolo do bairro?  Já Santa Maria de Itabira, Pains, São João da Ponte, Rubim e Mantena, ficando pra lá da Avenida Uruguai, é como se não tivessem sido programadas para pertencer ao bairro. Realmente, a configuração atual dessa região dá a entender que o plano original foi um pouco deslocado durante o processo de urbanização.E não é só isso: Bolívia, Equador, Caiena, Iucatan, Maldonado e Mendonça, certamente integrantes do projeto do Sion, agora estão mais para o bairro São Pedro, porque ficam do outro lado da Avenida Nossa Senhora do Carmo, uma evidência de que essa avenida não fazia parte do plano urbanístico original do bairro. (ver um pouco dessa história na postagem do dia 5 de janeiro de 2012) Planejar é preciso, mas a realidade sempre vence os planos.
A coisa mais linda  que existe por aqui - desde quando ainda não havia nem ruas nem praças - e fica cada vez mais sensacional, é o ipê amarelo da Praça Nova York. Ao construírem a praça, o ipê, espécie da vegetação nativa, foi preservado, motivo pelo qual ele fica meio deslocado, entre o canteiro e a calçada que circunda a área central. À sua sombra já brincaram algumas gerações - pelo menos as de meus filhos quando crianças e depois meus netos. A árvore majetosa domina a praça e a recobre de amarelo quando suas flores de ouro são espalhadas pelo vento. Sábado passado, muita gente estava lá tirando fotos. Este bairro é  muito legal!


sexta-feira, 31 de agosto de 2012

30 de agosto

30 de agosto! Dois aniversários "compartilham" esta data - pessoas que moram dentro de meu coração: 

SÉRGIO

Sérgio veio ao mundo quando eu tinha apenas 10 meses e meio. Desde então faz parte de minha vida.
Crescemos juntos e curtimos, em cada momento, a alegria da afinidade, da compreensão e do companheirismo.
Juntos, entramos para a escola, juntos aprendemos a nadar, a dançar, a viver.
Eu amo este meu irmão querido.




ROSINHA

Rosinha entrou em minha vida, quando ainda éramos jovens e cheias de sonhos.
Nós nos tornamos mães ao mesmo tempo e nos unimos no amor às crianças que chegavam cada ano.
Desde então, com sua especial delicadeza e verdadeira elegância, enfeita nossa família com alegria, generosidade e união.
Eu amo esta minha madrasta querida.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A conquista da fronteira oeste.

Quando Juscelino Kubitschek de Oliveira se candidatou a presidente do Brasil, eu, eleitora recente, tive a honra de dar a ele o primeiro voto de minha vida. Grande estreia. Acho que nenhum outro voto foi dado com tanto entusiasmo. Eu me lembrava de sua posse como Governador do Estado, de quando ele saiu da casa de seu cunhado Júlio Soares, bem pertinho de minha casa, para a cerimônia de posse no Palácio da Liberdade. Na Avenida Getúlio Vargas, entre os curiosos que se juntaram para vê-lo, eu o aplaudia freneticamente. Quatro anos depois, meu voto estava ali, garantido e alimentado por um sorriso e um aceno que ele nos dirigiu, de dentro de seu carro, certo dia em que, por acaso, Tonho e eu paramos, na Avenida Afonso Pena, para deixá-lo passar em direção ao Palácio das Mangabeiras...
Algumas obras do governo de JK tiveram consequências diretas em minha vida, quem diria! Uma delas foi a construção da BR-3 (atual BR-040 que liga BH ao Rio e a Brasília), obra que estabeleceu a fronteira oeste do bairro Sion. Naquele tempo, fins da década de 1950, o Sion era apenas uma pequena extensão do bairro do Carmo. A meninada de toda a região freqüentava o cinema ao lado da velha igreja, ou a antiga escola estadual e o catecismo da paróquia – onde eu exerci também, enquanto estudante, a função de catequista. Essa relação dos dois territórios inverteu-se alguns anos depois, porque o Carmo ficou pequeno em comparação com a dimensão e a importância social que o Sion veio a adquirir ao longo do tempo. Mas a paróquia, devido à competência e carisma dos frades carmelitas e à falta de alternativas locais, manteve a liderança sobre ambas as comunidades: a de seus antigos paroquianos e a que se formava com o crescimento do novo bairro.
A abertura da via, no trecho urbano que veio a chamar-se Av. Nossa Senhora do Carmo criou um verdadeiro rebuliço na região e a própria igreja que se ergueria na Rua Grão-Mogol, principal via do bairro, sofreu inversão do projeto arquitetônico a fim de voltar sua fachada principal para a grande avenida.  Além de estabelecer um limite físico entre os bairros do Carmo e São Pedro, anteriormente intimamente ligados, a grande artéria atraiu para o sul da cidade o trânsito da saída para o Rio de Janeiro, que antes se fazia por uma estrada que contornava a Serra do Curral a partir do bairro Santa Efigênia e passava por Nova Lima, Rio Acima, Itabirito... Grandes recordações das viagens de férias, por essa estrada de terra cuja poeira não desgruda das memórias de infância.
Pois é, vamos ao que tem a ver diretamente com a conquista de território do bairro: essa nova rodovia, larga e moderna, ponto de honra do plano de metas do Presidente JK, na altura do então florescente bairro Sion, atravessou e rasgou ao meio a favela do Morro do Papagaio cujo casario descia a encosta leste do morro e chegava às portas do Grupo Escolar Municipal Benjamim Jacob onde eu lecionava para os alunos residentes naquelas moradias precárias.
A existência da avenida e o sucesso imobiliário do Sion exigiram da Prefeitura agilidade nas obras de infra-estrutura do bairro. A canalização do córrego que corria a céu aberto em frente à escola pública, na Rua Venezuela, resultou na urbanização da via e empurrou a população favelada para o alto do morro, do outro lado da Avenida. O aglomerado do Papagaio cresceu, desde então, para o lado de lá, com várias denominações conforme as comunidades que o compõem, subindo e descendo o morro na direção oeste até onde atualmente estão os bairros São Bento e Santa Lúcia. Do lado de cá, no Sion, as ruas Peru, Nicarágua, Assunção, Estados Unidos, Colômbia e outras deixaram então de ser apenas figuras nos mapas para se tornarem realidade, povoadas pelos habitantes de lindas casas modernas e pequenos prédios de apartamentos.
Enquanto isto, a década de 50 terminava e os anos 60 corriam céleres, a começar pelo meu casamento e nascimento de minha primeira filha. Logo estava eu aí de novo, com residência no Sion e trabalho na mesma escola. Ao me mudar do Funcionários para o Sion, penso agora que cumpria um destino inexorável de aprofundar minha relação pessoal com o bairro que vi nascer.
O bairro estava nascido e bem encaminhado, definido em sua fronteira oeste, mas sem a mínima noção de como haveriam de se delinear suas fronteiras sul e leste. É bom lembrar que até hoje a fronteira norte é deliberadamente indefinida, pois ninguém sabe nem quer saber onde termina o Carmo e onde começa mesmo o Sion.
Muitas peripécias eu vivi e testemunhei nesse bairro, enquanto havia poucas ruas calçadas, o abastecimento de água era precário e o comércio praticamente inexistente.
Depois eu conto...