terça-feira, 16 de agosto de 2011

Dia dos Pais

Recebi hoje a mensagem do Dia dos Pais da Escola Lúcia Casasanta, um texto da Coli, a cara dela. Ela escreveu sobre o pai dela que conheci bem. Acho que preciso reproduzir aqui esta mensagem:

AOS PAIS DOS NOSSOS ALUNOS E A TODOS QUE DESEMPENHAM ESTA FUNÇÃO


Procuramos muito um texto ou uma poesia que fale de “Pai” para enviar nesta véspera do “Dia dos Pais”. Não encontramos. Os que nós gostamos, foram enviados nos anos anteriores. Antes que possam ser enviados novamente, eu, Coli, tomei a liberdade de falar do meu pai para vocês, pais, avôs, padrinhos, tios e amigos dos nossos alunos. É só um depoimento. Recebam-no como uma declaração de afeto. De afeto e de admiração. Ser pai é tarefa de muita responsabilidade. Vocês a tem desempenhado com louvor. Parabéns! Recebam também um grande, um enorme abraço de todo mundo da escola! Pai faz muita falta. Sua presença é tão importante que, se não podemos contar com ela, tratamos de substituí-la por um avô, padrinho, tio, enfim, alguém que possa nos proteger. Porque essa é uma das funções do pai: nos proteger. Inclusive, de nós mesmos, educando-nos. Meu pai tinha a saúde frágil. Mas me protegeu muito. Estudava comigo, acreditou em mim. Com ele, aprendi a gostar de balas de café, a ouvir canarinhos e o barulho da chuva. Após o jantar, sentávamos na varanda para ver as estrelas. Ele, minha mãe e a gente – éramos 10 filhos. Deitada no chão, eu brincava com os besouros que vinham com a noite, enquanto os ouvia conversar. Eram conversas amenas, conversas de amigos, pois criança percebe o clima e o clima era de leveza, nesses momentos. Momentos felizes. Meu pai amava ler. No nosso quintal, havia uma outra casa: sua biblioteca. Quando criança, eu brincava de pegador entre as estantes e brincava com os livros. Fazia casinha de livros: parede de livro, telhado de livro... Enquanto isso, ele lia e estudava. Lia antes de dormir e madrugava para ler, antes de ir trabalhar. Ao voltar para casa, sempre havia – além dos caramelos! – um pacotinho de livros nas suas mãos. Os livros chegavam a nossa casa de toda parte do mundo! Meu pai adorava dar aulas e dizem que foi um bom professor. Acredito que sim, pois foi com ele que aprendi a gostar de ler. Era paciente ao me ensinar. Comentei, com alguns de vocês, que até os meus 11 anos tive muita dificuldade na escola. Eu não retinha as informações. Se, pela manhã, eu sabia o conteúdo, à tarde, já não me lembrava mais. Num tempo em que não havia diagnóstico nem tratamento para esse déficit, contei com a presença paciente do meu pai ao meu lado, durante alguns anos, estudando comigo com toda a paciência do mundo. Intrigado com o que via, é verdade. Certa manhã, ao perceber que eu não tinha a menor ideia do assunto que havíamos trabalhado intensamente no dia anterior, ele me disse uma frase fundamental para a minha autoconfiança: “- Engraçado, Coli, você não é burra!” Até hoje, me lembro do seu estranhamento. No início da adolescência, em compensação, já livre do meu problema, vivemos ótimos momentos com os livros. Meu pai, todas as noites, pedia que eu lesse para ele. A princípio, eu achava ruim: ouvia as vozes dos meus irmãos brincando; queria mais era estar com eles. Reclamava com minha mãe. Mas a resposta dela era sempre a mesma: – Seu pai está te esperando!E, então, aconteceu o “milagre”! À medida que minha leitura ganhava fluência, passei a adorar ler com o meu pai! Agora, eu é quem esperava ansiosamente para ler com ele, após o jantar. E, juntos, lemos de um tudo: de Julio Dinis e Julio Verne a Machado de Assis. Pouco tempo depois, meu pai morreu. Dizem que continuamos eternos enquanto alguém se lembra da gente. Acredito. Meu pai continua vivo na minha cabeça e no meu coração. Coli Caiafa